Folha de S.Paulo

Governo alivia regras para atrair investidor

Índices de conteúdo nacional exigidos para investimen­tos em óleo e gás será reduzido à metade nos próximos leilões

- GUSTAVO URIBE JULIO WIZIACK NICOLA PAMPLONA

Indústria brasileira protesta e promete agir para tentar reverter as mudanças, que agradam às petroleira­s

O governo reduziu pela metade o índice de conteúdo local que será exigido nas próximas rodadas de leilões de óleo e gás, aliviando as regras que tinham sido definidas pela ex-presidente Dilma Rousseff e geraram multas bilionária­s a empresas do setor.

Depois de meses de discussão entre vários grupos de trabalho ligados ao governo e à indústria, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, anunciou nesta quarta-feira (22) que o acordo fechado definiu seis índices e que, na média, eles sofreram uma redução de 50%.

Nas áreas terrestres de exploração, a cota obrigatóri­a será de 50% de componente­s nacionais. Para exploração no mar, 18%. Na construção de poços, 25%. Para sistemas de coleta e escoamento, 40%. Em unidades estacionár­ias de produção, a cota passa a 25%.

Os novos índices vão valer para os dois leilões do pré-sal previstos para setembro e novembro deste ano, mas ainda precisam passar pela aprovação do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que se reúne em março.

As mudanças agradaram às petroleira­s e receberam fortes críticas da indústria fornecedor­a de equipament­os. “A indústria está se sentido vilipendia­da, acha que não foi atendida”, disse o presidente executivo da Abimaq (Associação Brasileira dos Fabricante­s de Máquinas e Equipament­os), José Velloso.

Segundo ele, os percentuai­s anunciados pelo governo podem ser cumpridos apenas com prestação de serviços, sem necessidad­e de contratar produtos fabricados no país. “Nas últimas décadas, a indústria investiu US$ 60 bilhões em capacidade no Brasil, e agora vai fazer o que com isso? É um cavalo de pau.”

Nesta quinta (23), representa­ntes dos fabricante­s se reunirão no Instituto Aço Brasil (IABr), no Rio, para redigir um manifesto contra as mudanças e planejar ações para tentar reverter o processo.

Para o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que representa as petroleira­s, a redução nos índices de conteúdo local ajudará a destravar investimen­tos. O diretor do IBP Mauro Andrade disse que o novo modelo adequa as regras à capacidade de fornecimen­to da indústria nacional.

“Foi uma solução construída após bastante diálogo com vários setores”, elogiou. MULTAS Como as regras de conteúdo local serão menos duras, também se decidiu pela redução das multas cobradas em casos de descumprim­ento.

Em vez de 60%, a multa cai para 40% do valor “em aberto”. No entanto, se a multa não for paga em até dez dias, ela sobe para 75% do valor.

As multas aplicadas pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) com base na regra atual, que prejudica o cumpriment­o das cotas pela dificuldad­e de se encontrar fornecedor­es locais, gerou um passivo estimado entre R$ 60 bilhões e R$ 80 bilhões.

Segundo o ministro de Minas e Energia, as novas medidas devem atrair mais interessad­os para as duas próximas rodadas de leilões.

A expectativ­a inicial de arrecadaçã­o era de cerca de R$ 3,5 bilhões com os leilões, mas pode chegar a R$ 5 bilhões agora, segundo estimativa­s da equipe econômica.

“Com mais disputa, o preço pelos blocos deve aumentar”, disse Fernando Coelho Filho. “Há um consenso de que, com números mais realistas, vamos ter a oportunida­de de dar novo dinamismo à indústria nacional.”

 ?? Felipe Dana - 22.set.2010/Associated Press ?? Plataforma da Petrobras em construção em Angra dos Reis
Felipe Dana - 22.set.2010/Associated Press Plataforma da Petrobras em construção em Angra dos Reis

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil