SP quer trocar obras com verba internacional
DE SÃO PAULO
O que deveria ser provisório vai se tornar definitivo. Quem desembarcar do trem planejado para levar passageiros ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP), terá que usar um serviço de ônibus para fazer a conexão com os terminais de voo.
Após sucessivos atrasos, a linha 13-jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) tem sua conclusão prevista pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para o primeiro semestre de 2018.
Inicialmente, o ônibus era cogitado como paliativo até que a concessionária do aeroporto entregasse ao governo do Estado o monotrilho prometido para fazer essa interligação, com prazo de conclusão estimado para 2020 e custo próximo de US$ 40 milhões.
Essa já era uma mudança significativa em relação ao projeto original do Estado, que previa a construção da estação Aeroporto em distância que os passageiros pudessem caminhar até o check-in.
A decisão da concessionária GRU Airport de construir um shopping no local planejado para a estação obrigou o Estado a rever o projeto.
Em troca da mudança, a concessionária se comprometeu a transportar gratuitamente os usuários do trem aos terminais, sem obrigação de uso de um modal específico. O plano inicial era usar um monotrilho, a exemplo de outros grandes aeroportos.
Agora, de acordo com a avaliação da GRU Airport, a demanda de passageiros será suficientemente atendida com o sistema rodoviário.
A chegada pela nova linha da CPTM será numa estação perto do terminal 1 do aeroporto, que atualmente conta com voos da Azul e da Passaredo, mas longe dos principais pontos de embarque —a cerca de 2 km do terminal 2 e a 3 km do terminal 3. Haverá uma espécie de minirrodoviária ao lado da estação para fazer o deslocamento final.
Segundo a GRU Airport, “o cronograma do projeto está em linha com o prazo de entrega das obras da CPTM”.
Um possível problema da conexão por ônibus é o descompasso entre a quantidade de pessoas que esse modo é capaz de transportar (até 80) diante do volume muito maior do trem (até 2.600). Um monotrilho, em comparação, teria capacidade de fazer o deslocamento de mais de 400 passageiros por viagem.
Além disso, atualmente o intervalo entre as viagens do ônibus que faz a conexão entre os terminais é de 15 minutos, o que poderia levar a grandes filas e transtornos na saída da estação de trem.
Para evitar problemas, o governo do Estado já fez uma proposta à GRU Airport: permitir que os passageiros façam o check-in antecipado e o despacho de bagagens na estação Brás do Metrô e da CPTM, no centro de São Paulo, onde o passageiro deverá pegar a linha 12-safira até a estação Engenheiro Goulart, na zona leste.
De lá, ele seguirá por mais 12 km pela linha 13-jade até Cumbica. O tempo previsto no deslocamento do centro até a futura estação do aeroporto é próximo de 50 minutos.
O plano previsto pelo governo inclui a destinação de um ou mais vagões dos trens para o transporte das bagagens, que ficaria a cargo das próprias companhias aéreas. ANTIGA PROMESSA Pelo porte do aeroporto e pelo vasto número de voos internacionais que oferece, a ligação por trilhos de Guarulhos ao centro de São Paulo, a exemplo do que acontece em grandes metrópoles internacionais, é uma antiga promessa de gestões tucanas.
A conexão ferroviária é anunciada há pelo menos 15 anos. Em 2002, durante a campanha pela reeleição, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) manifestava o desejo de ter um “Expresso Aeroporto” pronto em 2005.
Nessa versão, o projeto faria a ligação direta da estação da Luz até Cumbica em 22 minutos. O trem teria local para acomodar bagagem e tarifa estimada à época em R$ 20.
O plano não teve andamento, contudo, e foi reciclado em 2007, já na gestão de José Serra (PSDB). Com promessa de recursos federais e da iniciativa privada, a expectativa de entrega ficou para 2010.
Ainda em 2009, no entanto, houve nova previsão: o trem expresso seria incluído no pacote de obras para o país receber a Copa de 2014, mas nenhuma empresa manifestou interesse no plano.
Finalmente, em 2011, outra vez sob o comando de Alckmin, o governo abandonou a ideia do trem expresso e optou por expandir a malha da CPTM até Guarulhos, com a criação da linha 13-jade.
Desde então, houve ao menos três atrasos em relação aos prazos divulgados de entrega da linha, já anunciada para 2014, 2015 e 2016.
O investimento do Estado nas obras da linha 13 é de R$ 1,8 bilhão, e a estimativa inicial é de 130 mil pessoas transportadas por dia —além de passageiros, o aeroporto de Guarulhos é o destino de mais de 35 mil trabalhadores.
O governo paulista está tentando remanejar recursos de outras obras para duas vitrines da gestão Geraldo Alckmin (PSDB): o Rodoanel Norte e a linha 4-amarela do metrô.
Iniciado em 2013, o novo trecho em construção do Rodoanel teve o cronograma atrasado duas vezes, e a atual previsão de entrega é março de 2018, último ano da administração Alckmin.
Já a expansão da linha 4, retardada pela troca do consórcio construtor —o anterior tinha como um dos sócios a Engevix, enredada na Lava Jato—, pode demorar mais de dois anos. Etapas relevantes, como a estação Higienópolis, têm entrega prevista até 2018.
O Estado quer remanejar para essas obras R$ 1,3 bilhão —recurso de empréstimos do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Como as operações de crédito têm o governo federal como fiador, a troca precisa do sinal verde de Brasília. A decisão está marcada para esta quinta (23), em reunião com representantes dos ministérios do Planejamento, Fazenda e Banco Central.
Contratados em 2010 e 2014, os empréstimos tinham como destino a expansão da linha 5-lilás do metrô e obras em estradas.
Segundo a secretaria de Fazenda, o remanejamento atende “obras consideradas prioritárias” e não compromete os demais projetos, que já teriam outras fontes de recursos.
Com previsão de entrega em 2015, a linha 5 do metrô deve ter três novas estações abertas em julho (Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin), mas só deverá ser totalmente concluída no ano que vem.
Ao todo, São Paulo quer remanejar quase R$ 2 bilhões em empréstimos internacionais, que incluem ainda R$ 630 milhões da Cooperação Andina de Fomento que seriam destinados à drenagem do rio Baquirivu Guaçu e agora devem ir para barragens na região de Campinas.
Os pedidos de troca esbarram numa disputa técnica entre o Estado e o Tesouro Nacional. Após uma onda de superendividamento dos Estados, que levou muitos ao colapso, o Tesouro Nacional passou a vetar análises de crédito dos que tenham avaliações negativas. São Paulo, pelo critério federal, tem nota C(a gradação vai de A a D).
A Fazenda paulista questiona a nota e diz que, com a avaliação, não pode remanejar a verba nem tomar novos empréstimos.
“Entendemos a cautela com os Estados, muitos não estão nada bem, mas [o remanejamento] não é dinheiro novo, é um investimento que já foi aprovado”, diz o secretário de Fazenda, Hélcio Tokeshi.
O Tesouro afirma que a avaliação dos Estados será aperfeiçoada nos próximos 30 dias e que São Paulo tem a liberdade de tentar empréstimos sem o aval da União. Neste caso, porém, o custo é maior.