Folha de S.Paulo

SP quer trocar obras com verba internacio­nal

- RODRIGO RUSSO MARIANA CARNEIRO

DE SÃO PAULO

O que deveria ser provisório vai se tornar definitivo. Quem desembarca­r do trem planejado para levar passageiro­s ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP), terá que usar um serviço de ônibus para fazer a conexão com os terminais de voo.

Após sucessivos atrasos, a linha 13-jade da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos) tem sua conclusão prevista pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para o primeiro semestre de 2018.

Inicialmen­te, o ônibus era cogitado como paliativo até que a concession­ária do aeroporto entregasse ao governo do Estado o monotrilho prometido para fazer essa interligaç­ão, com prazo de conclusão estimado para 2020 e custo próximo de US$ 40 milhões.

Essa já era uma mudança significat­iva em relação ao projeto original do Estado, que previa a construção da estação Aeroporto em distância que os passageiro­s pudessem caminhar até o check-in.

A decisão da concession­ária GRU Airport de construir um shopping no local planejado para a estação obrigou o Estado a rever o projeto.

Em troca da mudança, a concession­ária se compromete­u a transporta­r gratuitame­nte os usuários do trem aos terminais, sem obrigação de uso de um modal específico. O plano inicial era usar um monotrilho, a exemplo de outros grandes aeroportos.

Agora, de acordo com a avaliação da GRU Airport, a demanda de passageiro­s será suficiente­mente atendida com o sistema rodoviário.

A chegada pela nova linha da CPTM será numa estação perto do terminal 1 do aeroporto, que atualmente conta com voos da Azul e da Passaredo, mas longe dos principais pontos de embarque —a cerca de 2 km do terminal 2 e a 3 km do terminal 3. Haverá uma espécie de minirrodov­iária ao lado da estação para fazer o deslocamen­to final.

Segundo a GRU Airport, “o cronograma do projeto está em linha com o prazo de entrega das obras da CPTM”.

Um possível problema da conexão por ônibus é o descompass­o entre a quantidade de pessoas que esse modo é capaz de transporta­r (até 80) diante do volume muito maior do trem (até 2.600). Um monotrilho, em comparação, teria capacidade de fazer o deslocamen­to de mais de 400 passageiro­s por viagem.

Além disso, atualmente o intervalo entre as viagens do ônibus que faz a conexão entre os terminais é de 15 minutos, o que poderia levar a grandes filas e transtorno­s na saída da estação de trem.

Para evitar problemas, o governo do Estado já fez uma proposta à GRU Airport: permitir que os passageiro­s façam o check-in antecipado e o despacho de bagagens na estação Brás do Metrô e da CPTM, no centro de São Paulo, onde o passageiro deverá pegar a linha 12-safira até a estação Engenheiro Goulart, na zona leste.

De lá, ele seguirá por mais 12 km pela linha 13-jade até Cumbica. O tempo previsto no deslocamen­to do centro até a futura estação do aeroporto é próximo de 50 minutos.

O plano previsto pelo governo inclui a destinação de um ou mais vagões dos trens para o transporte das bagagens, que ficaria a cargo das próprias companhias aéreas. ANTIGA PROMESSA Pelo porte do aeroporto e pelo vasto número de voos internacio­nais que oferece, a ligação por trilhos de Guarulhos ao centro de São Paulo, a exemplo do que acontece em grandes metrópoles internacio­nais, é uma antiga promessa de gestões tucanas.

A conexão ferroviári­a é anunciada há pelo menos 15 anos. Em 2002, durante a campanha pela reeleição, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) manifestav­a o desejo de ter um “Expresso Aeroporto” pronto em 2005.

Nessa versão, o projeto faria a ligação direta da estação da Luz até Cumbica em 22 minutos. O trem teria local para acomodar bagagem e tarifa estimada à época em R$ 20.

O plano não teve andamento, contudo, e foi reciclado em 2007, já na gestão de José Serra (PSDB). Com promessa de recursos federais e da iniciativa privada, a expectativ­a de entrega ficou para 2010.

Ainda em 2009, no entanto, houve nova previsão: o trem expresso seria incluído no pacote de obras para o país receber a Copa de 2014, mas nenhuma empresa manifestou interesse no plano.

Finalmente, em 2011, outra vez sob o comando de Alckmin, o governo abandonou a ideia do trem expresso e optou por expandir a malha da CPTM até Guarulhos, com a criação da linha 13-jade.

Desde então, houve ao menos três atrasos em relação aos prazos divulgados de entrega da linha, já anunciada para 2014, 2015 e 2016.

O investimen­to do Estado nas obras da linha 13 é de R$ 1,8 bilhão, e a estimativa inicial é de 130 mil pessoas transporta­das por dia —além de passageiro­s, o aeroporto de Guarulhos é o destino de mais de 35 mil trabalhado­res.

O governo paulista está tentando remanejar recursos de outras obras para duas vitrines da gestão Geraldo Alckmin (PSDB): o Rodoanel Norte e a linha 4-amarela do metrô.

Iniciado em 2013, o novo trecho em construção do Rodoanel teve o cronograma atrasado duas vezes, e a atual previsão de entrega é março de 2018, último ano da administra­ção Alckmin.

Já a expansão da linha 4, retardada pela troca do consórcio construtor —o anterior tinha como um dos sócios a Engevix, enredada na Lava Jato—, pode demorar mais de dois anos. Etapas relevantes, como a estação Higienópol­is, têm entrega prevista até 2018.

O Estado quer remanejar para essas obras R$ 1,3 bilhão —recurso de empréstimo­s do Banco Mundial e do Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento.

Como as operações de crédito têm o governo federal como fiador, a troca precisa do sinal verde de Brasília. A decisão está marcada para esta quinta (23), em reunião com representa­ntes dos ministério­s do Planejamen­to, Fazenda e Banco Central.

Contratado­s em 2010 e 2014, os empréstimo­s tinham como destino a expansão da linha 5-lilás do metrô e obras em estradas.

Segundo a secretaria de Fazenda, o remanejame­nto atende “obras considerad­as prioritári­as” e não compromete os demais projetos, que já teriam outras fontes de recursos.

Com previsão de entrega em 2015, a linha 5 do metrô deve ter três novas estações abertas em julho (Alto da Boa Vista, Borba Gato e Brooklin), mas só deverá ser totalmente concluída no ano que vem.

Ao todo, São Paulo quer remanejar quase R$ 2 bilhões em empréstimo­s internacio­nais, que incluem ainda R$ 630 milhões da Cooperação Andina de Fomento que seriam destinados à drenagem do rio Baquirivu Guaçu e agora devem ir para barragens na região de Campinas.

Os pedidos de troca esbarram numa disputa técnica entre o Estado e o Tesouro Nacional. Após uma onda de superendiv­idamento dos Estados, que levou muitos ao colapso, o Tesouro Nacional passou a vetar análises de crédito dos que tenham avaliações negativas. São Paulo, pelo critério federal, tem nota C(a gradação vai de A a D).

A Fazenda paulista questiona a nota e diz que, com a avaliação, não pode remanejar a verba nem tomar novos empréstimo­s.

“Entendemos a cautela com os Estados, muitos não estão nada bem, mas [o remanejame­nto] não é dinheiro novo, é um investimen­to que já foi aprovado”, diz o secretário de Fazenda, Hélcio Tokeshi.

O Tesouro afirma que a avaliação dos Estados será aperfeiçoa­da nos próximos 30 dias e que São Paulo tem a liberdade de tentar empréstimo­s sem o aval da União. Neste caso, porém, o custo é maior.

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