Folha de S.Paulo

Buraqueira persiste nas ruas de SP, e borracheir­os passam ilesos à crise

Queixas de motoristas em oficinas sobrevivem também a mudanças na prefeitura

- GUILHERME ZOCCHIO

COLABORAÇíO PARA A FOLHA

Há mais de 20 anos trabalhand­o na mesma borrachari­a, na alameda Casa Branca, nos Jardins (zona oeste), Paulo César dos Santos, 47, já passou por sete prefeitos, por idas e vindas da situação econômica, novas e velhas crateras.

A cada mudança, uma coisa é certa: as queixas dos clientes sobre a buraqueira das vias paulistana­s se repetem.

Neste começo de 2017, diz ele, conhecido como Pelé, a situação não é diferente. Isso mesmo em área nobre, com calçadas melhores, onde os serviços da prefeitura em geral “são bons” e “a reclamação é forte”, como define.

Por dia, Pelé tem recebido em média três pneus rasgados nas ruas para conserto.

O borracheir­o lembra: “Na [al.] Ministro Rocha Azevedo [vizinha à oficina] tinha um buraco há um ano e meio que já me deu muito lucro”.

Como mostrou a Folha no último dia 3, esse problema foi acentuado no fim da gestão Fernando Haddad (PT), em meio à queda nos serviços para fazer esses reparos, e se estende pelo começo da gestão João Doria (PSDB).

A média de buracos tapados na capital paulista por mês caiu de 35,6 mil, em 2013, para 16,6 mil em 2016. Em novembro, só 7,6 mil buracos foram alvo de conserto. Sem os reparos e em época de chuva, eles não só sobrevivem co- mo se espalham —e crescem de tamanho— pelas ruas.

A gestão Doria já divulgou ter mais que dobrado as equipes de tapa-buraco e que trabalha num novo edital de licitação para um serviço mais eficiente e barato do que os da atual usina de asfalto.

Pneus rasgados por buracos, guias irregulare­s nas calçadas, má qualidade do asfalto, agravada ainda pelos temporais, garantem a vida nas borrachari­as da cidade.

Entre os borracheir­os com quem a Folha conversou nos últimos dias, os ganhos costumam variar de R$ 2.000 a R$ 4.000 líquidos por mês.

Alex Vidal, 29, afirma que também nunca ficou sem serviço. Na segunda-feira (20), quando ele conversou com a reportagem, já havia reparado no meio do dia três pneus.

“Todo dia tem pelo menos um pneu cortado por buraco. De segunda a sábado, os motoristas vêm e reclamam bastante”, afirma Vidal.

Mesmo a atual crise econômica não retira as borrachari­as do lugar onde estão.

Há 10 anos na Autopeças Galo, na alameda Glete, no centro de São Paulo, Vidal diz que a movimentaç­ão na oficina até caiu nos últimos meses, mas essa mudança está longe de atrapalhar a continuida­de do negócio.

O estabeleci­mento, que tem clientes de toda a capital paulista, permanece no mesmo ponto desde 1968 .

O mecânico Paulo Shinkawa, 62, é vizinho dali há 40 anos, na avenida São João, também no centro paulistano, com a oficina Santa Isabel. Entre pneus furados, cortados ou rasgados nas ruas da região, conta em média dez por dia. E ele afirma: “Vêm mais em dias de chuva”.

Isso é: quanto pior as condições do clima, mais movimento nas borrachari­as. “Buraco é o que mais tem na cidade. Quando chove, tem mais buraco e tem mais gente que vem”, diz Givaldo Souza, 40, há 20 anos no ramo, na Borrachari­a do Marques, na rua Amaral Gurgel, no centro.

Diante do temporal que atingiu a região central da capital paulista na tarde desta quarta-feira (22), já poderia esperar novos clientes.

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O borracheir­o Paulo César dos Santos, 47, o Pelé, que trabalha nos Jardins (zona oeste), já passou por sete prefeitos

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