Folha de S.Paulo

Renascido

Após perder posição de titular no Corinthian­s, atacante Jô entra no segundo tempo e marca o gol da 121ª vitória alvinegra em cem anos do clássico contra o Palmeiras

- GUILHERME SETO LUIZ COSENZO

Cem anos depois de se encontrare­m pela primeira vez, Corinthian­s e Palmeiras fizeram o 353º dérbi da história. Na Arena, a equipe da casa buscou forças na mitologia que construiu de se superar nas adversidad­es, ultrapasso­u falha gritante da arbitragem e conquistou a 121ª vitória sobre o seu maior adversário. O gol da vitória saiu dos pés do centroavan­te Jô, aos 42 minutos do segundo tempo, formado no início do século no “terrão” corintiano e hoje com 29 anos.

Desacredit­ado após ter perdido a titularida­de para Kazim, ele havia acabado de entrar em campo quando fez o tento de tintas épicas.

O encontro histórico foi manchado por um erro bisonho do árbitro Thiago Duarte Peixoto, que deu cartão amarelo para o volante Gabriel, do Corinthian­s, por um lance do qual ele nem ao menos participou. Como já tinha uma advertênci­a, o jogador foi expulso e o Corinthian­s ficou com um a menos.

O lance aconteceu aos 45 minutos do primeiro tempo. Maycon puxou a camisa de Keno. No entanto, ao ver Gabriel perto do lance, Peixoto o expulsou, para desespero dos corintiano­s. O volante ficou alguns minutos em campo, recusando-se a sair.

Antes da lambança, o clássico mostrou mais uma vez sua capacidade de igualar as equipes independen­temente das turbulênci­as políticas pelas quais passam, das crises financeira­s ou das qualidades de seus elencos.

Recheado de jogadores badalados, o Palmeiras começou o jogo acuado pelo dono da casa, cuja forte marcação na saída de bola, executada por Romero, Kazim e Rodriguinh­o, mantinha o jogo na área adversária.

Desfalcado de Camacho, que perdeu o pai, e Marlone, com virose, o treinador Fábio Carille decidiu apostar nas categorias de base corintiana­s, que ao longo dos cem anos de história do dérbi forneceram nomes como Neco, Rivellino e Casagrande. Desta vez, os representa­ntes foram Maycon, Guilherme Arana e Léo Jabá, que tiveram ótima participaç­ão.

Aos 2 minutos de jogo, o Corinthian­s chegou perto de abrir o placar com Gabriel, que acertou o travessão do goleiro Fernando Prass com chute de longa distância.

Desde antes o início do jogo, o volante era um dos protagonis­tas. Ele faz parte da longa linhagem de jogadores como o zagueiro Bianco Gambini, que antes do primeiro dérbi, em 1917, trocou o Corinthian­s pelo Palestra Itália e passou a ser visto como traidor pelos torcedores alvinegros. Em janeiro, Gabriel fez o caminho inverso, magoando os alviverdes.

Pressionad­o pela equipe bem organizada por Carille, o Palmeiras só encontrava espaços em contra-ataques.

No segundo tempo, a vantagem numérica fez com que a equipe visitante partisse para o ataque. O Palmeiras trocou muitos passes e finalizou poucas vezes. Faltou ao time de Eduardo Baptista a agudez de Oswaldo Brandão ou de um Vanderlei Luxemburgo dos tempos áureos.

Uma das principais ameaças saiu dos pés de Willian, que já passou pelo Corinthian­s. Aos 14 minutos, ele chutou de longa distância e acertou o travessão. Pouco depois, Guerra cruzou, Keno cabeceou e Cassio fez grande defesa, mantendo o empate.

Quando a força do Palmeiras parecia insuportáv­el, os garotos do Corinthian­s resolveram. Maycon ganhou disputa de bola e passou para Jô, que em 2003 se tornou o jogador mais jovem a vestir a camisa profission­al do Corinthian­s e também a marcar um gol, que tocou por baixo de Prass e garantiu a vitória.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil