Folha de S.Paulo

A LEI DA NOITE

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Em “A Lei da Noite”, Joe Coughlin (Ben Affleck) é um soldado que vira ladrão que vira contraband­ista que vira gângster que tenta virar um homem de negócios dentro da lei, nos EUA dos anos 1920.

Ao longo de dez anos, ele terá como inimigos, sucessiva ou simultanea­mente, a polícia de Boston, a máfia irlandesa, a máfia italiana, a Ku Klux Kan, uma pastora evangélica (Elle Fanning) e um xerife da Flórida, entre outros.

Nesse meio tempo, Joe encontrará tempo para viver uma grande paixão com a amante de um gângster irlandês (Sienna Miller) e outra com a irmã de um contraband­ista cubano (Zoë Saldaña).

Além de protagoniz­ar o filme, Affleck é também seu roteirista, diretor e produtor.

Ao transpor para o cinema as 480 páginas de “Os Filhos da Noite” (2012), do americano Dennis Lehane, Affleck poderia ter escolhido algumas das tramas (e uma ou outra função atrás das câmeras). Optou por todas —o que, de certa forma, significa optar por nenhuma.

“A Lei da Noite” é um filme que confunde excesso com grandeza. Com menos ambição e mais foco, poderia ser um eficaz noir moderno —como “Medo da Verdade” (2007), que Affleck também adaptou de uma obra de Lehane.

Mas, com exceção de uma ou outra cena cômica, Affleck preferiu adotar um tom solene para sua história de gângster. Quis fazer um filme próximo à trilogia do “Poderoso Chefão”.

Mas o resultado lembra mais “A Cidade Perdida” (2005), de Andy García, que também resvala em uma caricatura desse gênero.

O motivo é óbvio: Affleck não é Francis Ford Coppola. O Oscar de melhor filme ganho por “Argo” quatro anos atrás pode ter dado a alguns a impressão de que ele era um cineasta promissor.

Talvez pelo tamanho das suas pretensões, “A Lei da Noite” acaba revelando suas limitações como roteirista e diretor (as de ator já eram conhecidas). Quando não assume abertament­e os clichês, Affleck costuma fazer opções estéticas quase sempre convencion­ais, rotineiras.

Como o Michael Corleone (Al Pacino) de “O Poderoso Chefão”, Joe Coughlin é um criminoso com escrúpulos, mas se vê enredado em uma escalada de violência da qual não consegue escapar.

Nas entrelinha­s da trama, percebe-se o potencial para um comentário social sobre uma América em que o poder do crime, da política e da religião se confundem.

Mas essa ideia —que poderia dar ao filme uma involuntár­ia atualidade na era Trump— se dilui em uma narrativa dispersa e prolixa. (LIVE BY NIGHT) DIREÇÃO Ben Affleck ELENCO Ben Affleck, Elle Fanning, Brendan Gleeson PRODUÇÃO EUA, 2016, 14 anos QUANDO estreia nesta quinta (23) AVALIAÇÃO regular

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Fotos Divulgação Ben Affleck interpreta o soldado/ladrão/gângster Joe Coughlin

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