Folha de S.Paulo

A máfia da judicializ­ação da saúde

Máfia conquista grandes lucros para fabricante­s de materiais hospitalar­es às custas da saúde e boa-fé de pacientes em todo o país

- PEDRO RAMOS

“Eu acuso! Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentad­as pelo espectro do inocente que paga por um crime que não cometeu.”

O trecho, extraído da célebre carta “J’Accuse”, escrita em 1898 por Émile Zola ao então presidente francês Félix Faure, denunciand­o irregulari­dades na Justiça Militar daquele país, ilustra o ímpeto com que o Brasil deve encarar a questão da máfia da judicializ­ação da saúde, que vem trazendo grandes lucros a fabricante­s de materiais médicohosp­italares e a seus parceiros às custas da saúde e boa-fé de pacientes em todo território nacional.

São esquemas em que profission­ais da saúde, advogados e fabricante­s de materiais médico-hospitalar­es mancomunam-se para incentivar o cidadão comum a buscar benefícios indevidos na Justiça.

O uso desse expediente jurídico é generaliza­do —visa desde o acesso a itens banais, como achocolata­dos diet e papéis higiênicos, até a procedimen­tos não previstos no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementa­r) ou medicament­os caríssimos que nem sequer são legalizado­s no país.

Esse mal, além de sangrar o orçamento para o atendiment­o na rede pública, também põe em cheque a saúde suplementa­r.

Os casos, infelizmen­te, estão espalhados por todo o país, até mesmo em instituiçõ­es reconhecid­as, como o Hospital das Clínicas e o Albert Einstein.

No Distrito Federal, a Operação Mr. Hyde revelou recentemen­te um conluio envolvendo médicos, enfermeiro­s, diretores de hospitais e empresário­s para a realização de cirurgias desnecessá­rias que chegavam a mutilar pacientes utilizando materiais de baixa qualidade.

É necessário combater o problema por diversos motivos. O primeiro é óbvio: evitar que o Judiciário seja usado para a obtenção de vantagens indevidas.

O segundo diz respeito à ameaça que tais procedimen­tos constituem à integridad­e física e emocional de pacientes que, sem saber, tomam parte em negociatas que podem até mesmo levar à morte.

O terceiro motivo é o impacto financeiro e social dessa corrupção, uma vez que milhões são desviados de investimen­tos em atendiment­os básicos de muitos para privilegia­r o tratamento em caráter excepciona­l de poucos que têm condições de pagar um advogado.

Antes de mais nada, o sistema de remuneraçã­o da saúde deve evoluir do atual “fee for service” —pagamentos variáveis conforme o número de procedimen­tos e produtos utilizados por médicos e demais profission­ais da saúde— para o padrão DRG, que privilegia a criação de pacotes de serviços e produtos hospitalar­es com base em dados coletados a partir da internação de pacientes.

São muitas as vantagens desse paradigma, como a redução dos riscos de máfias se articulare­m por meio do uso de recursos finitos de maneira irresponsá­vel e a possibilid­ade de comparar a assistênci­a realizada por diferentes prestadore­s e a padronizaç­ão dos tratamento­s.

É ainda desejável discutir regras mais rígidas em relação à venda de materiais médico-hospitalar­es.

Atualmente, nos EUA, a Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde) está processand­o alguns dos maiores fabricante­s mundiais desses produtos, cujas filiais comprovada­mente tomam parte em negociaçõe­s de superfatur­amento e uso desnecessá­rio desses itens.

A ideia é exigir, pelas regras de compliance americanas, uma atitude mais transparen­te dessas organizaçõ­es. No final, o recado é simples e claro: não há e nunca haverá preço que cubra a saúde e o bem-estar da população; portanto, qualquer esquema corrupto deverá ser combatido. PEDRO RAMOS,

Após ler todas as baboseiras ditas pela cantora Beth Carvalho, e confirmand­o sua xenofobia (exceto quanto à imagem do assassino Guevara em seu apartament­o), resta somente fazer uma paráfrase quanto ao comentário do senador Romário sobre Pelé: Beth Carvalho calada é uma poetisa (“Samba está mais fraco, e Carnaval virou esquemão”, “Entrevista da 2ª”, 27/2).

CLAUDIO TERRIBILLI

Supercriti­cado pela festa “ariana” do ano passado, o Oscar bem que tentou se redimir, porém, o fez de maneira tão explícita, que mais parecia um serviço de cotas do que uma verdadeira ode ao talento negro.

RICARDO C. SIQUEIRA

O Oscar é politicage­m, não perco meu tempo com isso. Às 19h eu já estava dormindo. Não é todo filme que perco meu tempo em assistir. Ah! Quase esqueço, detesto Carnaval. É o pior pão e circo de nossa era.

ROBERVAL ROQUE BORGES PAIVA

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Paulo Branco

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