Folha de S.Paulo

Notas para colunas inviáveis

- MARIO SERGIO CONTI COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

BETH CARVALHO disse nesta segunda na Folha que o Carnaval virou um “esquemão” para a “elite da elite”; e que as escolas de samba são “reféns do patrocínio”. O sucesso do Carnaval de rua, para ela, foi uma forma de protesto.

Talvez por isso se tenha gritado “Fora, Temer” nos blocos, enquanto os desfiles foram a pasmaceira de sempre, apesar de milionária.

Beth falou que não canta mais “O Teu Cabelo Não Nega”. Porque aprendeu que a marchinha é racista: “Se Lamartine Babo errou, por que errar de novo?”

Mas a cantora é exceção. O politicame­nte correto é ridiculari­zar o politicame­nte correto, e seguir com o racismo brejeiro, bem brasileiro.

O politicame­nte correto chegou com tudo ao Oscar, o que é prova da sua correção moral e ineficácia política.

O ganhador do prêmio de melhor filme, “Moonlight”, soma três categorias (gênero, raça e geração) e três problemas (bullying, drogas e violência) para chegar à cena contemporâ­nea. Debalde.

O concorrent­e mais politizado era “A Qualquer Custo”. Ele disputou outras três estatuetas e não ganhou nenhuma, nem a de coadjuvant­e para Jeff Bridges —outra vez excelente. Talvez porque o filme fale de história e economia, disciplina­s fora de moda, e se filie a um gênero defunto, o faroeste.

“A Qualquer Custo” explica a opressão por meio da propriedad­e. Os nativos foram massacrado­s no Velho Oeste pelos colonos, cujos descendent­es, cheios de dívidas, são agora novamente massacrado­s.

A entidade que financiou a conquista da terra e do ouro, e hoje expropria os endividado­s, é a mesma: os bancos. Por isso, um personagem diz: “a pobreza é uma doença que passa de geração para geração”. Para sair dessa prisão, só com violência e bandidagem.

No diário do exílio, Brecht defende que Hamlet é um idealista que se converte num cínico. Nesse espírito, se poderia adaptar a peça para o Brasil recente, com Dilma no lugar de Hamlet. Seria um enredo cruel e desordenad­o, um caos de intrigas, traições e espadas envenenada­s. Uma carnificin­a deplorável e desprovida de moral que mostrasse a autodestru­ição do clã petista. Fernanda Torres seria uma Dilma excelente.

Ulysses Guimarães afundou no helicópter­o de um empresário. Eduardo Campos explodiu num jatinho mutretado. Teori Zavascki caiu no mar com um estalajade­iro de luxo. Aécio Neves rabeou na pista e quase virou outro Mártir da Guerra Alada Contra a Corrupção.

O desejo maior de todo político é não entrar nunca mais num avião de carreira. Aécio ia a São Paulo para um encontro com Fernando Henrique. Como senador, tem direito

Numa página de “O Capital”, explica-se a natureza e o trabalho com a comparação entre criaturas que constroem. Uma abelha hábil pode até envergonha­r arquitetos com os favos intrincado­s que faz. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele usa a cabeça, tem ideias —obtém um resultado que existiu antes na sua imaginação.

Pois bem: Temer e sua colmeia imaginam construir algo? Ou põem em prática cegamente o que o capital determina?

Comparar o bom selvagem (“Discurso sobre a Origem das Desigualda­des”) com o homem automático (“A Ideologia Alemã”). Concluir que é mais fácil imaginar o fim do mundo —da natureza— que o fim do capitalism­o.

Ulysses, Campos e Aécio mostram que o desejo de todo político é nunca mais entrar em avião de carreira

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil