Folha de S.Paulo

EUA aposentarã­o o Predator, drone militar mais famoso

- IGOR GIELOW

O lendário Predator, o mais famoso drone militar do mundo, será aposentado pela Força Aérea dos Estados Unidos após duas décadas encarnando uma revolução no modo de se lutar guerras —e gerando questionam­entos éticos correspond­entes.

Comunicado distribuíd­o nesta segunda (27) confirmou a expectativ­a de que os Predators sejam substituíd­os em 2018 por um de seus irmãos mais novos e modernos, o Reaper —que voa há dez anos, é mais veloz, preciso, carrega mais armamentos e custa quase três vezes mais.

O General Atomics MQ-1 Predator entrou em operação em 1995, fazendo reconhecim­ento visual na Bósnia.

Seu papel como motor de mudança na doutrina militar americana veio em 2001, quando foi testado como arma ofensiva. Estreou no Afeganistã­o no ano seguinte.

Seu pequeno motor a pistão, de origem austríaca, gera um zumbido incessante. “Drone”, em inglês, significa tanto zangão quanto zumbido. Virou sinônimo dos aparelhos do gênero em todo o mundo, embora os militares prefiram o termo técnico: veículo aéreo não tripulado.

O zumbido antecipou morte em várias periferias do planeta, como Iraque, Paquistão ou Iêmen, enquanto seus operadores seguiam em segurança via satélite a milhares de quilômetro­s, no caso dos EUA na base de Creech, em Nevada. Segundo a ONG New America Foundation, só no Paquistão foram até 3.700 mortos entre 2004 e 2016. Outras entidades contam até 6.000 vítimas pelo mundo.

Isso levou a dúvidas éticas. Como seriam responsabi­lizados por erros? Qual o limite para assimetria que impede retaliaçõe­s? Até aqui, não há respostas satisfatór­ias.

Enquanto isso, na gestão Barack Obama o uso de drones explodiu e inspirou quase 30 países a buscar a tecnologia, Brasil incluído. Até o Estado Islâmico se orgulha de operar uma versão primitiva.

O Predator, cujo destino das cerca de 160 unidades ativas dos EUA será o depósito de órgãos civis, pode estar deixando a vida militar, mas seu legado está assegurado. FICHA TÉCNICA Questionam­ento ético Controlado­s à distância, é quase impossível atribuir responsabi­lidades em caso de crimes de guerra. Sem apoio preciso em solo, casos de erros e ataques com vítimas inocentes são frequentes

 ?? Massoud Hossaini - 13.jun.2010/AFP ?? Drone Predator em pista da base de Candahar (Afeganistã­o)
Massoud Hossaini - 13.jun.2010/AFP Drone Predator em pista da base de Candahar (Afeganistã­o)

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