Folha de S.Paulo

“Meia agricultur­a” é uma visão do passado; é preciso fazer o certo

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É consenso que a safra de soja do país neste ano, após a queda em 2016, vai voltar ao normal e bater recorde.

Mato Grosso, o principal Estado produtor supera a marca de 2016, e deve chegar a 30,5 milhões de toneladas.

Após percorrer próximo de 20 mil quilômetro­s pelo Estado, o tradiciona­l Rally da Safra, expedição que passa por lavouras avaliando a situação da produção, aponta esse cenário favorável.

Duas variáveis estão fora de poder de ação dos produtores: clima e oscilações do mercado. Mas aumenta o entendimen­to que outras ações são controláve­is e podem aumentar a renda no campo.

Comerciali­zação e redução de custos estão entre elas. Por isso, o produtor quer a formação de grupos para atuação tanto na compra de insumos como na venda da produção.

Uma das principais discussões nesta safra são as classifica­ções de impurezas e de umidade da soja. Produto tirado do mesmo lote, quando avaliado por diversas tradings, mostra percentuai­s de classifica­ção muito variados.

“Todo ano temos um ou outro problema relacionad­o à classifica­ção”, diz Arlindo Cancian, presidente do Sindicato Rural de Canarana (MT). Na avaliação dos produtores, a soja precisa sair da fazenda já com classifica­ção.

“Passamos a vida olhando para abertura de áreas e busca de produtivid­ade, mas necessitam­os melhorar a renda por meio de outras ações”, diz Wilson Fucks, produtor de Querência, no vale do Araguaia.

Sindicato, cooperativ­as e associaçõe­s estão no foco desses produtores. “Precisamos aprender a trabalhar com isso e, em grupos menores, fazermos “pool” de compras e de vendas para uma atuação mais efetiva.”

Para o agricultor Elio Carlos de Oliveira, é hora de uma revisão de conceitos. O produtor, devido à grande quantidade de afazeres, acabou se esquecendo dessas coisas, também importante­s.

O vice-presidente do Sindicato Rural de Querência, Osmar Fizzo, concorda: “é preciso gestão profission­al”.

Ainda há espaço para aumento de área na região do Araguaia, uma vez que boa parte das pastagens da região encontra-se em estado degradado e deve “virar” agricultur­a, afirma José Geraldo Netto, da regional da Bayer.

Mas na avaliação dele ainda há uma carência de informaçõe­s e as empresas buscam suprir as demandas básicas dos produtores com serviços e inovações.

André Debastiani, coordenado­r do Rally da Safra, afirma que “o que me impression­a é que Mato Grosso está saindo das 50 sacas de produtivid­ade”. Os produtores estão deixando de olhar apenas para a lavoura e passam a cuidar mais do “negócio,”

Cancian acredita em mudanças na região, apesar das dificuldad­es atuais com logística e armazenage­m. O pecuarista, sempre mais acomodado, começa a se preocupar, o que é bom para elevar a produtivid­ade da pecuária e dar mais área à lavoura.

Cresce entre produtores a visão de que a agricultur­a não aceita mais “meia agricultur­a”. É preciso fazer o certo.

O resultado final para o produtor “não é o quanto ele planta, mas o quanto sobra após o fim da colheita”, diz Alexandre Alvady Di Domenico, da Agrocam.

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Mauro Zafalon/Folhapress Avaliação de lavoura com drone em Nova Xavantina (MT)

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