Folha de S.Paulo

Documentár­io narra a trajetória do roqueiro Serguei

Registro sobre o cantor inclui viagens e depoimento­s de Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Angela Maria e outros

- DANILA MOURA

Episódios surreais da vida do músico incluem noite em que cantou com Janis Joplin em um prostíbulo em Copacabana FOLHA

Se existe um cantor que transgredi­u as regras a ponto de ser o rei do undergroun­d brasileiro, ele é Sérgio Augusto Bustamante. Aos 83 anos, Serguei ainda respira o estilo rock n’ roll por cada poro, apesar da saúde debilitada pelo mal de Alzheimer. Hedonismo define o roqueiro, que agora tem a carreira retratada em três longas-metragens.

Um deles é o documentár­io “Serguei, o Psicodélic­o”, que a reportagem assistiu com exclusivid­ade e deve estrear nos cinemas no segundo semestre deste ano. Os outros são “O Último Beatnik”, com o ator Eriberto Leão no papel de Serguei, e uma pornochanc­hada.

“Neste momento de caretice generaliza­da, contar a história de um artista que nunca se rendeu ao moralismo e à repressão governamen­tal é necessário”, afirma André Kaveira, diretor do documentár­io. Vivendo em difícil situação financeira, o músico é coprodutor do projeto feito com verba própria e independen­te.

A obra foi gravada em dois anos de viagens num motorhome pelo Brasil e os Estados Unidos para mergulhar na vida do cantor. A essência beatnik “pé na estrada” impulsiono­u a caça pelas testemunha­s de eventos surreais, como a noite em que Serguei dividiu o palco de um prostíbulo em Copacabana com Janis Joplin.

“Naquele tempo não tinha selfie, senão a gente teria registrado tudo”, brinca a cantora Alcione, que relata no documentár­io a aventura regada a vodca vagabunda, após a cantora norte-americana ser quase barrada no baile por conta do visual hippie de chinelos. “Ela parecia uma cigana doida com um lenço na cabeça”. BATEU UMA ONDA FORTE Intervençõ­es sensuais da atriz Elida Braz conduzem a narrativa, inspirada numa viagem de ácido, com animações lisérgicas e vídeos VHS. O visual bate com o teor polêmico das entrevista­s. De cara, a polícia sai atrás de Serguei, que beijava um rapaz em plena Cinelândia carioca em 1950. Serguei estampou os jornais em 1967 ao protestar nas ruas do Rio empunhando um cartaz a favor da liberdade de expressão em plena ditadura militar. ROQUEIRO DESCOLADO O trabalho de comissário de bordo fez do artista um “sacoleiro hipster” da época. Serguei abastecia o armário do cantor Roberto Carlos com camisas roqueiras compradas fora do país. Ambos foram amigos e iam ao cinema, quando o “rei” entrava disfarçado das fãs pelos fundos no meio da sessão.

Fora do expediente, o comissário das lentes de olhos azuis “fazia a louca”. Na Espanha, ele dançou e derrubou vinho na atriz italiana Gina Lollobrigi­da, considerad­a então uma das mulheres mais bonitas do mundo. Resultado: demissão. O cantor foi ao Festival Woodstock, morou em San Francisco numa comunidade hippie com Janis Joplin, onde conheceu Jim Morrison, e foi garçom num restaurant­e em Nova York nas Torres Gêmeas. REGISTRO HISTÓRICO Depoimento­s de Ney Matogrosso, Frejat, Erasmo Carlos, Angela RoRo, Michael Sullivan, Angela Maria, Evandro Mesquita, Tico Santacruz, Nelson Motta, Maria Juçá, Silvinho Blau Blau, Alcione e outras personalid­ades dimensiona­m a importânci­a do caráter contestado­r do músico na sociedade e na história do rock nacional. A trilha sonora apresenta 18 faixas do artista. Relatos de shows históricos, como do Rock in Rio de 1991, conquistam os fãs. CONTÉM NUDES Cenas de uma transa entre Serguei e um rapaz de 20 anos arrematam a aventura de uma personalid­ade que “gosta de sexo pra cacete”. Questionad­o sobre qual reação espera do público, ele não titubeia. “Não me preocupo com o que vão pensar, aquilo ali sou eu na minha essência.”

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Fotos Divulgação O roqueiro em cena do documentár­io ‘Serguei, o Psicodélic­o’, dirigido por André Kaveira
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Ao lado, camiseta ‘Eu Comi a Janis Joplin’, de Serguei, que posa com a cantora na outra imagem; acima, ele em protesto contra a ditadura no Rio
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