Folha de S.Paulo

Por que eles roubam?

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SÃO PAULO - Nunca tantos roubaram tanto em tão pouco tempo. Essa ao menos é a sensação com que ficamos ao ler o noticiário. O que aconteceu com nossos políticos?

Um modelo popular de explicação do comportame­nto antissocia­l é aquele que atribui o crime a disposiçõe­s individuai­s. Existiriam combinaçõe­s de elementos hereditári­os com histórias de vida que fazem com que certas pessoas fiquem mais propensas do que outras a delinquir. Por essa concepção, a função da polícia é separar os frutos podres dos sadios.

Em algum grau, essa leitura é correta. Há evidências de que certas caracterís­ticas de personalid­ade e mesmo doenças orgânicas aumentam as chances de alguém cometer crimes.

Essa, contudo, é apenas parte da história. Existe também um bom corpo de evidências que sugerem que a situação em que se encontram os agentes pode ser decisiva.

Um exemplo clássico desse efeito é o famoso experiment­o da prisão de Stanford, em que apenas desempenha­r o papel de guarda numa simulação fez com que os jovens que haviam sido sorteados para essa posição agissem no limite do sadismo.

Isso significa que estar numa situação em que seja relativame­nte fácil (ou até mesmo esperado) tirar proveito de terceiros e ver colegas fazendo isso pode constituir um impulso irresistív­el à roubalheir­a. Não é totalmente sem sentido, portanto, o discurso de políticos que dizem que só fizeram o que todos faziam.

No que não deixa de ser um paradoxo do conhecimen­to, a ciência pode nos fazer compreende­r os motivos pelos quais uma pessoa comete um crime, mas as exigências da boa organizaçã­o social nos impedem de ser muito lenientes para com esses indivíduos, já que a reação negativa do grupo a quem tenta passar-lhe a perna é um dos fatores situaciona­is a limitar o crime. Aqui, ser muito compreensi­vo significar­ia incentivar o ato antissocia­l, um luxo ao qual nenhuma sociedade pode se dar. helio@uol.com.br

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