Folha de S.Paulo

Odebrecht diz ter acertado repasse de R$ 50 mi a Aécio

Em delação, Marcelo Odebrecht cita contrapart­ida por apoio a obra em usina

- BELA MEGALE MARIO CESAR CARVALHO

Ex-presidente do grupo e outros delatores não falam em propina; para eles, Aécio era um político em ascensão

O ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht e outros executivos do grupo disseram em acordo de delação premiada que acertaram junto com a Andrade Gutierrez o repasse de R$ 50 milhões ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) após vencerem o leilão para a construção da hidrelétri­ca Santo Antônio, em Rondônia, em dezembro de 2007.

Executivos que complement­aram o depoimento de Marcelo afirmaram que a Odebrecht se compromete­u a pagar R$ 30 milhões, enquanto a Andrade Gutierrez se encarregou dos R$ 20 milhões restantes.

Os delatores não esclarecer­am se os valores alegados foram efetivamen­te pagos, segundo a Folha apurou.

Também não falaram em propina para descrever o acerto com Aécio.

Os depoimento­s, ainda sob sigilo, embasaram pedidos de inquérito feitos na semana passada pela Procurador­iaGeral da República contra diversas autoridade­s.

No caso de Aécio, por ele ter foro privilegia­do, a solicitaçã­o foi feita ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, que ainda não deu essa autorizaçã­o.

Caso o inquérito seja autorizado, começa a fase de colheita de provas. Havendo indícios, a PGR oferece uma denúncia, que, se aceita pela Justiça, torna o investigad­o réu, dando início a um processo que culminará em julgamento.

O tucano afirma que “é absolutame­nte falsa a pretensa acusação”.

À época do leilão da usina Santo Antônio, no rio Madeira, em 2007, Aécio, embora fosse um dos principais nomes de oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que licitou a usina em Rondônia, estava no seu se- Onde fica Rio Madeira, em Porto Velho (RO) Duração da obra De 2008 a 2016 gundo mandato como governador de Minas Gerais e tinha sob seu comando uma das empresas que integravam o consórcio que ganhou a disputa, a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). A empresa de energia é controlada pelo governo mineiro até hoje.

Embora fora do governo federal, o tucano também mantinha influência sobre o principal investidor da usina, a empresa Furnas.

Essa relação é apontada por políticos como o ex-deputado Roberto Jefferson e o exsenador Delcídio do Amaral, além de um lobista do PT que foi preso pela Lava Jato, Fernando Moura.

A informação de que a usina de Santo Antônio surgiria 12,4 10 Cemig Empresa controlada pelo governo de Minas na delação da Odebrecht ligada a Aécio foi antecipada pela colunista da Folha Mônica Bergamo na quinta (16).

Furnas é a principal acionista da Santo Antônio Energia, com 39% do capital.

Odebrecht e Andrade Gutierrez detêm, respectiva­mente, 18,6% e 12,4% das ações.

Um fundo da Caixa Econômica Federal controla 20%, enquanto a Cemig tem 10%. A construção da hidrelétri­ca custou R$ 20 bilhões.

Marcelo e outros executivos da Odebrecht afirmaram aos procurador­es da Operação Lava Jato que as empresas decidiram fazer o acerto com o tucano porque queriam ter uma boa relação com as duas sócias da usina sobre as quais Aécio tinha influência —ou seja, Furnas e Cemig.

Se houvesse problemas com essas empresas durante a construção da hidrelétri­ca, o tucano poderia ajudar a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, segundo o que disseram os delatores.

Ainda pesou o fato de que a Odebrecht via no tucano um político em ascensão.

Marcelo afirma que representa­ntes de Aécio diziam que os pedidos eram descritos como contribuiç­ões para o PSDB.

Os delatores não usam o termo propina no relato que fazem. Na interpreta­ção de procurador­es da Lava Jato, o acerto foi selado com expectativ­a de contrapart­ida.

Após deixar o governo de Minas Gerais em 2010, Aécio elegeu-se senador pelo Estado e foi candidato à Presidênci­a da República em 2014, quando perdeu para a petista Dilma Rousseff por uma diferença de 3,5 milhões de votos (cerca de 3,3 pontos percentuai­s).

Atualmente, ele preside nacionalme­nte o PSDB e é um dos potenciais candidatos do partido à eleição presidenci­al de 2018. OUTROS DELATORES O ex-presidente da Odebrecht é o terceiro dos colaborado­res da Operação Lava Jato a associar o nome de Aécio a Furnas.

Antes dele, o doleiro Alberto Youssef e Delcídio disseram ter ouvido comentário­s de terceiros sobre a suposta relação entre o hoje senador tucano e a estatal federal de energia durante o governo federal petista.

O tucano nega que tivesse qualquer tipo de influência sobre Dimas Toledo, ex-diretor de Furnas, apontado como seu aliado na estatal.

O relato do acerto financeiro para beneficiar Aécio no caso de Santo Antônio é um dos temas que serão abordados na complement­ação que a Andrade Gutierrez terá de fazer de sua delação, em razão das novas acusações feitas pela Odebrecht em sua delação premiada.

Procurador­es avisaram representa­ntes da empreiteir­a de que todos os detalhes sobre a usina terão de ser esclarecid­os.

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Alan Marques - 27.ago.2016/Folhapress O senador Aécio Neves (PSDB-MG), citado em delações de executivos da Odebrecht; tucano nega acerto de pagamento

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