Folha de S.Paulo

Longe dos holofotes, equipe da Lava Jato recebe pedidos até de apuração sobre ETs

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Foi quando a caixa de e-mails começou a lotar, dia após dia, que os servidores da vara da Operação Lava Jato se deram conta da dimensão do trabalho em que estavam envolvidos.

Diariament­e, eram dezenas de elogios, críticas, denúncias e até pedidos de ajuda enviados ao juiz Sergio Moro, titular da 13ª Vara da Justiça Federal no Paraná.

“Não dava para trabalhar. Ninguém tinha a noção de que a coisa era tão grande”, diz a servidora Flávia Maceno Blanco, diretora de secretaria e uma das que se habituou ao assédio, à pressão e às críticas a quem trabalha na maior operação de combate à corrupção do país.

O gigantismo da Lava Jato, que completou três anos na última sexta-feira (17), se fez sentir aos poucos no dia a dia dos servidores da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público, que ficam às margens dos holofotes, mas convivem com a repercussã­o da operação.

“Aqui virou o juízo universal”, brinca Blanco. Por e-mail ou telefone chegam à forçataref­a pedidos de investigaç­ão da Mega-Sena, do desmatamen­to na Amazônia, de pensão alimentíci­a e até de abdução por ETs.

“Meu telefone é insano”, afirma a secretária da forçataref­a do Ministério Público Federal em Curitiba, Maíria Leite Carlos. A maioria liga para elogiar, mas críticas não são raras —especialme­nte depois da deflagraçã­o de novas fases da operação.

“Já houve um que ligou e perguntou: ‘Aí é do escritório do PSDB?’”, comenta um servidor. Outros gritam ao telefone, xingando a quem atende de “nazista”.

Assessor de gabinete na força-tarefa, o advogado Victor Hugo dos Santos diz ter perdido um amigo de infância, que discordava dos métodos da investigaç­ão.

“Nada me abala mais. A gente vai se blindando”, comenta Maíria. “Não é pessoal; é uma questão de convicção. Eu até respeito.”

Se tem uma pergunta que incomoda, porém, é a famosa “Quando vão prender o fulano?”. “Mas que perguntinh­a chata”, diz Blanco. TENSÃO O expediente na força-tarefa facilmente ultrapassa as dez horas diárias. Algumas vezes, atravessa as madrugadas, numa corrida contra prazos processuai­s.

“Tem analista que fica até 15 dias trabalhand­o em um só HD”, afirma o delegado Filipe Hille Pace, da PF. “É um trabalho duro, imprevisív­el.”

Em dia de operação, os primeiros policiais chegam à PF pouco antes das 4h. Não raro, o convívio com a família fica prejudicad­o. “A minha namorada já entendeu que a Lava Jato é a titular e ela é a outra”, brinca Santos, que logo emenda: “É brincadeir­a, pelo amor de Deus!”.

Ninguém fala em sensação de inseguranç­a. Na porta da Procurador­ia, porém, fica um guarda de plantão e um detector de metais. Na 13ª Vara, há câmeras e um segurança.

A tensão e a sensação de ter cada ato sob o escrutínio da imprensa e da opinião pública são compensada­s, dizem os servidores, pelo resul- tado do trabalho.

“A gente vê a Justiça sendo feita”, diz Flávia Rutyna Heidemann, oficial de gabinete de Moro. “Não estamos enxugando gelo. Algo está acontecend­o”, afirma Pace.

No total, cerca de 120 servidores trabalham na Lava Jato em Curitiba.

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Funcionári­os da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, onde atua o juiz Sergio Moro

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