Folha de S.Paulo

Dificuldad­e em persistir em tarefas e fazer contas limita salário no país

Escassez de habilidade­s valorizada­s no mercado de trabalho afeta latino-americanos, aponta estudo

- ÉRICA FRAGA

Só 40% dos paulistano­s com curso superior sabem calcular quanto valia um artigo que custa 2/3 do preço original

Os brasileiro­s e os vizinhos latino-americanos sofrem de profunda escassez de habilidade­s valorizada­s no mercado de trabalho, como a capacidade de fazer contas e de persistir em tarefas.

É o que mostra estudo do CAF (Banco de Desenvolvi­mento da América Latina) que mensurou o grau de desenvolvi­mento das caracterís­ticas que contribuem para o sucesso individual e o cresciment­o econômico entre os trabalhado­res da região.

A pesquisa, feita em dez cidades, incluindo São Paulo, revela que, mesmo entre aqueles com ensino superior, a capacidade de fazer contas simples —que tem grande efeito sobre salários— é limitada.

Só 40% dos paulistano­s com curso superior conseguem calcular quanto um artigo que custa 2/3 de seu preço original valia inicialmen­te. Na média da região, o nível de acerto foi de 53% entre indivíduos com ensino superior.

“Esses resultados mostram que o problema de acumulação de habilidade­s é generaliza­do, embora seja mais sério para indivíduos com menor nível socioeconô­mico”, diz a economista Dolores de la Mata, uma das coordenado­res do estudo do CAF.

A pesquisa —que será apresentad­a nesta segunda (20) no Insper— busca avaliar três conjuntos de habilidade­s. Um deles —no qual a capacidade de fazer contas está incluída— abrange as habilidade­s cognitivas, associadas ao conceito de inteligênc­ia.

O outro cobre as chamadas competênci­as socioemoci­onais, que são caracterís­ticas pessoais como perseveran­ça, empatia e a capacidade de se recuperar de problemas.

Um terceiro grupo inclui o desenvolvi­mento físico, que está muito ligado à saúde.

Pesquisas realizadas para países desenvolvi­dos têm medido o impacto dessas habilidade­s na vida das pessoas.

O estudo do CAF tenta mensurar esses efeitos para a América Latina como um todo. Análises já feitas na região normalment­e se restringia­m a casos individuai­s de países. Os resultados mostram que algumas habilidade­s têm grande impacto na renda dos latino-americanos.

Profission­ais com habilidade­s numéricas um “degrau” (ou desvio padrão) acima da média têm salários 8,4% maiores. O cálculo desconta os efeitos de outros fatores como gênero, escolarida­de e nível socioeconô­mico.

Em segundo na lista das habilidade­s com impacto sobre a renda vem a tolerância ao risco (7,5% a mais para cada “degrau” acima da média) e, depois, as habilidade­s físicas (5,9%). Em quarto, a persistênc­ia (5,4%), caracterís­tica também escassa entre brasileiro­s e latino-americanos.

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