Caos reprimido
NESTA SEMANA, recomeçam as eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia. O Brasil terá uma partida difícil, fora de casa, contra o Uruguai, mesmo sem Suárez, e outra, que não é fácil, no Itaquerão. O Paraguai é, individualmente, modesto, mas costuma dificultar a vitória de qualquer grande seleção.
Provavelmente, Firmino entrará no lugar de Gabriel Jesus. Firmino é um centroavante que gosta de recuar para receber a bola, de driblar e de trocar passes, enquanto Gabriel Jesus se destaca mais pela velocidade com que parte para receber a bola na frente e pela rapidez de raciocínio. Chega sempre primeiro.
Repito, faltam ao Brasil um goleiro excepcional, como Neuer, Buffon, Courtois, De Gea e outros, e um craque no meio-campo, que jogue de uma área à outra, como Modric, Kroos, Vidal, Thiago Alcântara, Pogba e outros.
Em compensação, nenhuma seleção tem um lateral-esquerdo como Marcelo nem tantos meias atacantes agressivos, dribladores, velozes e ótimos no confronto individual, como Neymar, Philippe Coutinho, Willian e Douglas Costa, cortado por contusão. Por isso e por ter, agora, um bom conjunto, o Brasil voltou a ser um dos candidatos ao título mundial.
Uma opção, que pode ser necessária mais à frente, seria atuar com dois volantes (Casemiro e Renato Augusto), uma linha de três meias (Neymar e mais dois) e um centroavante. Outra seria adaptar Philippe Coutinho ou Willian na função de Paulinho. Uma terceira, enquanto Gabriel Jesus estiver fora, seria escalar Douglas Costa ou Philippe Coutinho pela esquerda e Neymar mais centralizado e mais perto do gol.
Os zagueiros e laterais brasileiros estão entre os melhores do mundo. Após o 6 a 1 do Barcelona sobre o PSG, voltaram as críticas a Thiago Silva, não por sua atuação, pois atuou bem e não cometeu nenhum erro, mas por seu comportamento de capitão. Queriam que ele evitasse a postura medrosa do time francês. Essa capacidade de um capitão, de mudar a história de um jogo, é, com raríssimas exceções, uma ilusão, uma lenda, transmitida por gerações.
O capitão é o representante do técnico no gramado e dos jogadores fora de campo. Alguns são ótimos para reivindicar prêmios mais altos por vitórias e títulos. Outra função muito importante é escolher o lado de campo para começar o jogo. Durante a partida, todos os jogadores podem e devem opinar. A liderança não é só do capitão. Muitos líderes técnicos em campo não eram capitães, como Gerson, na Copa de 1970.
O futebol está repleto de clichês, lendas, rituais e superstições, que se tornam muito mais importantes do que são. Um exemplo foi a entrada em campo dos jogadores de mão dadas, durante a Copa de 1994, que, para muitos, foi tão decisiva quanto Romário. Isso tem a mesma importância que dezenas de outros rituais, como o dos discursos emotivos, os gritos e os abraços dos jogadores, no vestiário, antes de o jogo começar.
No futebol, existe uma grande preocupação em procurar uma única causa para tudo. Tragédias, como o 7 a 1 da Copa de 2014 e do recente 6 a 1 na Liga dos Campeões, ocorrem por acertos, erros dos jogadores, das equipes, dos árbitros e também por uma rápida sequência de detalhes inespecíficos, que se somam e se potencializam. A vida é um caos organizado e reprimido.
O futebol está repleto de rituais, clichês, lendas e superstições e da busca por uma única causa para tudo