Cultura do fracasso
Trump é uma piada e jovens gostam disso
cistas, intrigas internacionais e a iconografia de Donald Trump? Como interpretar tudo isso?
No início, o 4chan se reunia uma vez por ano em apenas um lugar: na Otakon, convenção de fãs de animes em Baltimore, perto de Washington. Como jovem nerd na Baltimore dos anos 1990, trombei com a Otakon mais ou menos do mesmo jeito que, mais tarde, trombaria com o 4chan: no começo.
Tendo testemunhado o crescimento do 4chan, que passou de um grupo de adolescentes que caberia em uma sala a uma coalizão mundial de extremistas de direita, sinto-me na obrigação de dar alguma explicação sobre o fenômeno. O ANON A princípio, não prestei muita atenção no 4chan. Mas, por volta de 2008, quis fazer uma reportagem sobre o site. Sua base de usuários tinha aumentado muito, e era óbvio que logo se tornaria amplamente conhecido (para consternação de seus milhões de usuários, que faziam de tudo para mantê-lo secreto).
O segredo do sucesso do 4chan (e o elemento que o distinguia de seu progenitor, o Something Awful) era o formato do fórum de discussão japonês que Poole adaptara para uso em inglês.
As pessoas se divertiam demais, as discussões se tornavam efêmeras, cresciam loucamente em segundos e desapareciam minutos mais tarde, empurradas para o esquecimento por novos tópicos, e assim por diante, sem parar, 24 horas por dia, sete dias por semana.
O que mais agradava era não precisar criar uma conta. O programa exibia um nome padrão para os autores de postagens que não criavam uma conta —ou seja, todos.
Em milhões e milhões de postagens, o nome do autor era simplesmente “Anonymous” (anônimo). Os usuários começaram a chamar uns aos outros de Anonymous: “Oi, é o Anon falando aqui”. E assim o Anonymous nasceu. O 4chan com frequência é apresentado como responsável por alguns dos primeiros memes mais populares, como o “rickrolling” [pegadinha na qual a pessoa acha que, clicando num link, vai ver algo de seu interesse, mas acaba assistindo ao clipe de “Never Gonna Give You Up”, de Rick Astley].
Dizer isso, porém, é dizer pouco. O 4chan inventou o meme tal como o usamos hoje.
Termos como “win” (vitória), “epic” (épico, incrível) e “fail” (deu errado) foram criados ou popularizados ali. O próprio método de intercalar gifs e imagens com diálogos em aplicativos de mensagens é muito 4chaniano.
Em outras palavras, o site marcou profundamente nossos comportamentos e nossas interações.
Em 2008, escrevi ao jovem fundador do 4chan para pedir uma entrevista. Ele não respondeu.
Então vi que o 4chan ia se reunir não em Baltimore, mas a poucas quadras de meu apartamento em Nova York —na verdade, em muitas cidades mundo afora. Seus membros planejavam manifestações contra a Igreja da Cientologia.
O que levou esse grupo de nerds