Folha de S.Paulo

Alento global

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A despeito de incertezas políticas consideráv­eis, a economia mundial vive bom momento. Depois de um longo período de desacelera­ção nos países centrais e nos emergentes, os últimos meses mostram dinamismo que chega a ser surpreende­nte.

Nos Estados Unidos e na Europa, em especial, espera-se cresciment­o consistent­e neste 2017, de 2,5% e 1,7%, respectiva­mente. Ainda que não pareçam animadoras, são as taxas mais elevadas desde o início desta década.

Emprego, renda e confiança mostram vigor. O risco de deflação —quando preços e salários caem devido à prostração da atividade— parece ter ficado para trás.

Como resultado, os bancos centrais norte-americano e europeu já debatem com maior conforto o abandono dos juros anormalmen­te baixos que vigoram desde o agravament­o da crise global em 2008.

O Federal Reserve, dos EUA, está na dianteira, já tendo elevado sua taxa para 1% ao ano. Acredita-se que até 2019 o juro americano estará normalizad­o em torno dos 3%.

Em uma novidade positiva para o Brasil, a perspectiv­a de aperto monetário no mundo rico não tem causado maiores abalos para os países emergentes. Estes também aparentam estar hoje em melhor situação, ajudados pela elevação dos preços das matérias-primas.

Trata-se de ambiente distinto do que se observava até meados do ano passado, quando se temia uma freada mais brusca da China e, em consequênc­ia, da demanda do gigante asiático por minerais, alimentos e petróleo.

Permanece algum ceticismo quanto à permanênci­a do clima positivo. Afinal, é um desafio ao senso comum que a eleição de Donald Trump nos EUA e a perspectiv­a de saída do Reino Unido da União Europeia não tenham provocado os abalos econômicos inicialmen­te imaginados.

Há riscos, de fato. No caso de Trump, a perspectiv­a de cortes de impostos tem sido bem recebida pelos investidor­es, mas o viés protecioni­sta do republican­o pode levar a conflitos comerciais.

Na Europa, é possível, embora não provável, a vitória da candidata de extrema-direita, Marine Le Pen, nas eleições presidenci­ais da França. Nessa hipótese, estariam sob ameaça a União Europeia e o euro, num choque potencialm­ente maior que a eleição de Trump.

Por enquanto, ao menos, empresas e consumidor­es parecem dar mais atenção à melhora econômica do que ao perigo de solavancos políticos. A superação definitiva da crise, de todo modo, já tardou muito mais do que seria razoável.

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