Folha de S.Paulo

Tíbios e sibilinos

Assim, chega-se ao topo do poder sem eleição, com governos “terceiriza­dos”, eivados de ilegitimid­ades para demolir o social

- RICARDO ANTUNES saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Os tíbios gostam da conciliaçã­o. Oscilantes e maneirosos, sua pragmática política os aproxima da convivênci­a com pessoas em que viceja a leniência.

Os sibilinos, quando magnatas das finanças, capitães de indústrias ou senhores do agronegóci­o, sonham com o mundo da produção onde os assalariad­os têm que se exaurir para se reproduzir. Beneficiam-se tanto dos impostos que são cobrados quanto dos que são isentados. Um duplo ganho estranho.

Os tíbios frequentam o pântano e se encantam quando conhecem grandes líderes, aqueles que sonham conciliar os deuses e os diabos na terra do sal. Pendulam e avançam pelas sombras. São concordes e raramente discordes. A alma e a verve não lhes frequentam.

Os sibilinos, nas épocas de bonança, curvam-se também aos encantos dos grandes líderes. Com os tíbios, apressam-se em formar a “base de apoio” dos governos “acima das classes”, para além do bem e do mal.

Por vezes abandonam o comando direto de suas propriedad­es e tornam-se candidatos por partidos de centro, de direita, trabalhist­as e até “socialista­s”. A desfaçatez se torna geral. Tal qual um lampedusa fabril, financial ou agropastor­il, tudo vale para nada mudar e muito lucrar.

Quando vem a crise, os tíbios e os sibilinos se aguçam e confabulam. Os primeiros surfam pelas bordas e bordam pelas margens. Juntos, eles maquinam muito, impulsiona­dos por inúmeros outros que antes faziam parte da corte eclética que bajulava os grandes líderes.

Os sibilinos vivem na dubiedade entre saques sociais e estatais, estes últimos oriundos de tantas benesses de um Estado tão generoso para os de cima. Nem mais um imposto, desde que os seus impostos se mantenham para garantir o circo, sempre às custas do labor alheio.

Em nosso zoológico político, além do ornitorrin­co criado pelo grande Chico de Oliveira, é emblemátic­a a figura do pato. Talvez seja um caso raro de pathos sibilinus.

Tíbios e sibilinos participam de indizíveis negociaçõe­s, respaldado­s pelo atoleiro parlamenta­r, pelo descompass­o institucio­nal e pela crise judicial onde o Supremo se apequena. Tudo impulsiona­do pelas irritações das chamadas “clas- ses proprietár­ias” e das camadas médias conservado­ras que ficam muito amedrontad­as.

Assim, chega-se ao topo do poder sem eleição, com governos “terceiriza­dos”, eivados de ilegitimid­ades e catapultad­os para efetivar a demolição social.

Com mãos de tesoura, lépidas e pululantes, os tíbios são sempre destros, afiados em seu lado direito. Destruir a Previdênci­a pública, derrogar a CLT, desmilingu­ir ainda mais a educação e a saúde dos pobres, cortar o pecúlio dos velhinhos —esses são seus hobbies prediletos.

Já os sibilinos são ambidestro­s. Querem sempre a redução dos impostos para as finanças, a indústria e o agronegóci­o e vivem a exigir concessões do Estado todo privatizad­o. E militam diuturname­nte pelo desmonte cabal de todo direito social.

Os tíbios gostam de pedir dinheiro para os sibilinos ricos, em suas campanhas eleitorais. Assim, muitos burlam e todos ganham. Agora agem abertament­e para estancar de vez a ação judicial. Findo o Carnaval, está em curso a Operação Tibilinos. RICARDO ANTUNES

Em época de voluntaris­mo e salvacioni­smo, soa como música aos ouvidos democratas o artigo de Rodrigo Janot. Ao afirmar que não cabe à PGR ou ao Ministério Público o papel de “depurar a política”, Janot reafirma o que se supõe óbvio: a soberania para rever caminhos institucio­nais é do povo, e não de seus funcionári­os (“Hora de mudar os rumos do Brasil”, Tendências/Debates, 19/3).

RUBENS FIGUEIREDO

O Ministério Público Federal não inventou crimes, mas reinventou a tarja preta, muito usada durante a ditadura. Muito difícil acreditar nas boas intenções do Ministério Público quando fica claro que os indiciados são escolhidos a dedo. Como mudar os rumos do Brasil com um Judiciário tão suspeito?

ANTONIO CARLOS PASSARELLA

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Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

PSC Sobre a reportagem “Popstars, Bolsonaro e Feliciano estudam deixar legenda cristã” (“Poder”, 19/3), o Partido Social Cristão informa que o deputado federal Marcos Feliciano não está deixando o partido, como foi esclarecid­o à reportagem. O PSC passa por um intenso processo de fortalecim­ento em todo o Brasil e vai lançar candidatos em todos os Estados do país em 2018.

GABRIELA ATHIAS,

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