Roteiro de eventos de Bolsonaro tem empresários e apresentadores de TV
Pré-candidato a presidente busca se mostrar confiável e suavizar pontos de sua biografia
Em SP, ele teve almoço com donos de empresas como a Tecnisa; eventos tiveram presença de Xuxa e Otávio Mesquita
Empresários de São Paulo têm aberto portas para Jair Bolsonaro (PSC), 61, pré-candidato Presidência.
Em ascensão nas pesquisas —marcou 9% no último Datafolha—, o militar reformado tem participado de encontros na capital paulista, como o jantar “there is hope” (há esperança), que, em 20 de fevereiro, teve participação de “potenciais líderes”. Entre os presentes, a apresentadora Xuxa Meneghel.
No mesmo dia, Bolsonaro havia almoçado com 15 empresários, num encontro organizado pelo apresentador de TV Otávio Mesquita.
À mesa com potenciais doadores de campanha, Bolsonaro tentou, segundo participantes, apagar qualquer traço de truculência, afirmando que é uma pessoa “normal”, apesar da disciplina militar.
Ainda segundo os comensais, Bolsonaro negou ser defensor da prática de tortura. O deputado também deixou claro que sua eventual candidatura depende de suporte financeiro.
Fundador da construtora Tecnisa, o empresário Meyer Nigri foi um dos que partici- param. Segundo Nigri, o deputado demonstra “coragem para transformar o Brasil”.
Nigri frisa que sua presença à mesa não representa manifestação de voto. Mas admite que o nome de Bolsonaro surge como uma das alternativas à esquerda no país.
Ele reconhece que os rompantes de Bolsonaro atrapalham. “Ele tem bom conteúdo. Mas não gosto da forma.”
Otávio Mesquita conta que sugeriu a realização do almoço numa troca de mensagens com participantes de um gru- po de WhatsApp chamado “amigos do vinho”. Segundo ele, empresários tinham curiosidade sobre Bolsonaro.
Afirmando ter boa relação com Bolsonaro desde uma entrevista em sua própria casa, o apresentador diz que pretende realizar novos encontros a pedido dos empresários que não puderam participar do evento.
Sobre os arroubos de Bolsonaro, Mesquita afirma discordar de 30% das manifestações do deputado. Ele afirma ainda que esses pontos mais polêmicos podem ser revertidos.
“É possível reverter 20% desses 30% do que não concordo em Bolsonaro. Agora, não consigo reverter 70% que existem naquela cambada de corruptos”, justificou.
O apresentador tem dado conselhos a Bolsonaro, assim como um grupo de empresários que prefere não se identificar. Mesquita diz ter reclamado, por exemplo, da entrevista que Bolsonaro concedeu à Folha. Nela, o deputado defendeu uso da força pa- ra obtenção de informações.
“Ele sabe que não pode errar. Se não, quem vai torturar ele sou eu”.
Outro participante do almoço, o empresário José Carlos Semenzato, da Microlins, franquia de cursos profissionalizantes, disse que foi um “bate-papo de uma hora e meia”, sendo impossível conhecer uma pessoa.
Sobre Bolsonaro, ele diz que “uma curiosidade passa pelo empresariado”. Semenzato afirma que prefere o estilo do prefeito de São Paulo, João Doria, que, na sua opinião, não depende financeiramente da política. JANTAR No jantar que teve a participação de Xuxa, Bolsonaro era um dos 140 convidados do hospital Hadassah Brasil.
O encontro, destinado à apresentação de tratamentos de combate ao melanoma, aconteceu em Higienópolis e contou com a presença também de empresários.
A apresentadora não declara apoio a ele.
Segundo o presidente do Hadassah, Fabio Wajngarten, foi um evento “apolítico”.
“Ano passado estive em Israel para conhecer o quão desenvolvido é aquele povo “, disse o Bolsonaro em entrevista ao programa de TV judaico Shalom Brasil.
O jantar aconteceu dias antes da polêmica provocada pelo convite feito ao deputado para uma palestra no Clube Hebraica, depois cancelada.
DE SÃO PAULO
O Conselho da Justiça Federal (CJF) arquivou reclamação disciplinar requerida pelo Ministério Público Federal contra Roberto Luiz Ribeiro Haddad, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, com sede em São Paulo. A decisão foi unânime.
Haddad apresentou à Receita Federal, em 2001, uma declaração retificadora de imposto de renda contendo carimbo falso. O fato levou o Superior Tribunal de Justiça a abrir uma ação penal e a afastá-lo do cargo, em 2003.
O juiz retornou ao cargo em 2007, do qual se aposentou em 2013.
O relator da reclamação, ministro Mauro Campbell, do STJ, repetiu em seu voto os motivos que levaram o Supremo Tribunal Federal a extinguir a ação penal contra Haddad por crime de falsidade.
Campbell considerou que houve “perda da relevância penal” dos crimes de uso de documento falso e sonegação fiscal. O MPF não havia comprovado a suspeita de enriquecimento ilícito, e Haddad pagou imposto devido antes do recebimento da denúncia.
Haddad ainda responde a uma ação de improbidade, que aguarda há dez anos o julgamento de um recurso no STF para definir em qual tribunal o processo deve tramitar. A reportagem não conseguiu localizar o magistrado.