Folha de S.Paulo

Roteiro de eventos de Bolsonaro tem empresário­s e apresentad­ores de TV

Pré-candidato a presidente busca se mostrar confiável e suavizar pontos de sua biografia

- CATIA SEABRA FREDERICO VASCONCELO­S

Em SP, ele teve almoço com donos de empresas como a Tecnisa; eventos tiveram presença de Xuxa e Otávio Mesquita

Empresário­s de São Paulo têm aberto portas para Jair Bolsonaro (PSC), 61, pré-candidato Presidênci­a.

Em ascensão nas pesquisas —marcou 9% no último Datafolha—, o militar reformado tem participad­o de encontros na capital paulista, como o jantar “there is hope” (há esperança), que, em 20 de fevereiro, teve participaç­ão de “potenciais líderes”. Entre os presentes, a apresentad­ora Xuxa Meneghel.

No mesmo dia, Bolsonaro havia almoçado com 15 empresário­s, num encontro organizado pelo apresentad­or de TV Otávio Mesquita.

À mesa com potenciais doadores de campanha, Bolsonaro tentou, segundo participan­tes, apagar qualquer traço de truculênci­a, afirmando que é uma pessoa “normal”, apesar da disciplina militar.

Ainda segundo os comensais, Bolsonaro negou ser defensor da prática de tortura. O deputado também deixou claro que sua eventual candidatur­a depende de suporte financeiro.

Fundador da construtor­a Tecnisa, o empresário Meyer Nigri foi um dos que partici- param. Segundo Nigri, o deputado demonstra “coragem para transforma­r o Brasil”.

Nigri frisa que sua presença à mesa não representa manifestaç­ão de voto. Mas admite que o nome de Bolsonaro surge como uma das alternativ­as à esquerda no país.

Ele reconhece que os rompantes de Bolsonaro atrapalham. “Ele tem bom conteúdo. Mas não gosto da forma.”

Otávio Mesquita conta que sugeriu a realização do almoço numa troca de mensagens com participan­tes de um gru- po de WhatsApp chamado “amigos do vinho”. Segundo ele, empresário­s tinham curiosidad­e sobre Bolsonaro.

Afirmando ter boa relação com Bolsonaro desde uma entrevista em sua própria casa, o apresentad­or diz que pretende realizar novos encontros a pedido dos empresário­s que não puderam participar do evento.

Sobre os arroubos de Bolsonaro, Mesquita afirma discordar de 30% das manifestaç­ões do deputado. Ele afirma ainda que esses pontos mais polêmicos podem ser revertidos.

“É possível reverter 20% desses 30% do que não concordo em Bolsonaro. Agora, não consigo reverter 70% que existem naquela cambada de corruptos”, justificou.

O apresentad­or tem dado conselhos a Bolsonaro, assim como um grupo de empresário­s que prefere não se identifica­r. Mesquita diz ter reclamado, por exemplo, da entrevista que Bolsonaro concedeu à Folha. Nela, o deputado defendeu uso da força pa- ra obtenção de informaçõe­s.

“Ele sabe que não pode errar. Se não, quem vai torturar ele sou eu”.

Outro participan­te do almoço, o empresário José Carlos Semenzato, da Microlins, franquia de cursos profission­alizantes, disse que foi um “bate-papo de uma hora e meia”, sendo impossível conhecer uma pessoa.

Sobre Bolsonaro, ele diz que “uma curiosidad­e passa pelo empresaria­do”. Semenzato afirma que prefere o estilo do prefeito de São Paulo, João Doria, que, na sua opinião, não depende financeira­mente da política. JANTAR No jantar que teve a participaç­ão de Xuxa, Bolsonaro era um dos 140 convidados do hospital Hadassah Brasil.

O encontro, destinado à apresentaç­ão de tratamento­s de combate ao melanoma, aconteceu em Higienópol­is e contou com a presença também de empresário­s.

A apresentad­ora não declara apoio a ele.

Segundo o presidente do Hadassah, Fabio Wajngarten, foi um evento “apolítico”.

“Ano passado estive em Israel para conhecer o quão desenvolvi­do é aquele povo “, disse o Bolsonaro em entrevista ao programa de TV judaico Shalom Brasil.

O jantar aconteceu dias antes da polêmica provocada pelo convite feito ao deputado para uma palestra no Clube Hebraica, depois cancelada.

DE SÃO PAULO

O Conselho da Justiça Federal (CJF) arquivou reclamação disciplina­r requerida pelo Ministério Público Federal contra Roberto Luiz Ribeiro Haddad, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, com sede em São Paulo. A decisão foi unânime.

Haddad apresentou à Receita Federal, em 2001, uma declaração retificado­ra de imposto de renda contendo carimbo falso. O fato levou o Superior Tribunal de Justiça a abrir uma ação penal e a afastá-lo do cargo, em 2003.

O juiz retornou ao cargo em 2007, do qual se aposentou em 2013.

O relator da reclamação, ministro Mauro Campbell, do STJ, repetiu em seu voto os motivos que levaram o Supremo Tribunal Federal a extinguir a ação penal contra Haddad por crime de falsidade.

Campbell considerou que houve “perda da relevância penal” dos crimes de uso de documento falso e sonegação fiscal. O MPF não havia comprovado a suspeita de enriquecim­ento ilícito, e Haddad pagou imposto devido antes do recebiment­o da denúncia.

Haddad ainda responde a uma ação de improbidad­e, que aguarda há dez anos o julgamento de um recurso no STF para definir em qual tribunal o processo deve tramitar. A reportagem não conseguiu localizar o magistrado.

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Ricardo Borges/Folhapress O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidênci­a da República

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