Folha de S.Paulo

Perícia de acidente com Teori deve rejeitar sabotagem

Queda completa dois meses sem previsão de conclusão para nenhuma das três investigaç­ões que foram abertas

-

Órgão da Aeronáutic­a, PF e Procurador­ia não divulgaram até hoje comunicado­s sobre as possíveis causas

Dois meses após a queda do avião que matou o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki e outras quatro pessoas em Paraty (RJ), as três investigaç­ões abertas por órgãos federais seguem sem conclusão.

A Folha apurou que a hipótese de sabotagem é remota e praticamen­te descartada pelos investigad­ores, mas, até a última sexta-feira (17), a Polícia Federal, o Cenipa (órgão da Aeronáutic­a responsáve­l pela investigaç­ão de acidentes aéreos) e o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro ainda não haviam divulgado um comunicado oficial sobre as causas do acidente, ocorrido em 19 de janeiro.

Quatro dias depois da queda, o juiz federal Raffaele Felice Pirro, de Angra dos Reis (RJ), decretou segredo de Justiça sobre as apurações. Além de Teori, o acidente matou o empresário hoteleiro Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, o piloto Osmar Rodrigues, a massoterap­euta Maíra Lidiane Panas Helatczuk e sua mãe, Maria Hilda Panas.

As três apurações são um inquérito policial, tocado pela PF de Angra com acompanham­ento da Justiça Federal e do Ministério Público Federal, um inquérito civil aberto pela Procurador­ia da República em Angra e a apuração do Cenipa —que não tem objetivo de criminaliz­ar eventuais responsáve­is, mas apontar “fatores contribuin­tes”.

Como é feita por profission­ais especializ­ados em aviação, a terceira investigaç­ão é a mais aguardada. A Aeronáutic­a informou que pretende encerrar a apuração “no menor prazo possível”.

Por lei, não há data para o trabalho ser concluído. Em outro acidente de repercussã­o, a queda do jato que matou o então presidenci­ável Eduardo Campos (PSB-PE), em 2014, o Cenipa só anunciou o resultado um ano e cinco meses depois.

Há casos resolvidos em meses e outros que se estenderam por mais de dois anos.

“É necessário esclarecer que o processo de investigaç­ão é dinâmico, pois, à medida que as análises avançam, novas demandas surgem”, informou a FAB, em nota.

“Neste momento, a investigaç­ão encontra-se nas fases de coleta e análises dos dados. O áudio do gravador de voz da cabine (‘cockpit voice recorder’, o CVR) está sendo analisado. O CVR por si só não é elemento conclusivo, é apenas uma das fontes de dados”, informou o Cenipa.

Em janeiro, a Folha revelou que a principal hipótese do Cenipa é a desorienta­ção espacial do piloto. Segundo essa linha, em dia de chuva e baixa visibilida­de, uma das asas do avião tocou o mar, provocando “capotament­o”.

Nos laudos da PF, a tese da desorienta­ção espacial também é a principal, mas a apuração ainda levará um tempo, segundo a Folha apurou, porque os investigad­ores precisam eliminar todas as demais hipóteses —como a ideia, de probabilid­ade próxima a zero, de que havia uma bomba a bordo.

Os policiais também precisam desmentir teorias conspirató­rias. Essas linhas devem ser enfrentada­s para que o inquérito não receba a crítica de ter fechado os olhos.

Aguarda-se o resultado de exames toxicológi­cos do piloto para avaliação de seu estado de saúde. (RUBENS VALENTE) 13h01, 19.jan Avião decola do Campo de Marte, na zona norte de São Paulo, com destino a Paraty PERGUNTAS E RESPOSTAS Quem investiga o caso? Três frentes, em caráter sigiloso: Polícia Federal, Cenipa (centro da Aeronáutic­a responsáve­l por acidentes) e Ministério Público Federal Qual estágio da apuração? As investigaç­ões não foram concluídas. A PF tinha prazo inicial de 30 dias, que foi renovado uma vez e pode ser renovado por igual período quantas vezes for necessário. O Cenipa não tem prazo legal Qual a causa da queda? Ainda não foi divulgada. A

apurou que o principal fator levado em conta pelo Cenipa é possível desorienta­ção espacial do piloto, que pode ter tocado com a asa no mar e perdido o controle ao tentar pousar com chuva e baixa visibilida­de O aeroporto de Paraty é bem equipado? Não. Funciona apenas para pousos e decolagens visuais Há indícios de sabotagem? A Folha apurou que até o momento não surgiu nenhum indicativo disso Por que a PF ainda não encerrou o inquérito? Mesmo consideran­do remota a hipótese de sabotagem, os investigad­ores da PF trabalham para afastar teorias conspirató­rias que apareceram na época do acidente, como uma bomba a bordo, e aguardam outros exames

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil