Folha de S.Paulo

Ativistas correm para salvar dados científico­s dos EUA

Corte na EPA (Agência de Proteção Ambiental) e rumos do governo Trump levam cientistas a se reunir para fazer ‘resgate de dados’

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Quando a posse do novo presidente dos EUA estava se aproximand­o, em janeiro, a sensação entre alguns cientistas que dependem de vastos oceanos de dados armazenado­s em servidores do governo era quase de pânico.

Em um governo Trump que já havia deixado claro o seu desdém pelas provas de que a atividade humana está causando o aqueciment­o do planeta, os pesquisado­res temiam uma ampla cruzada contra as informaçõe­s científica­s fornecidas ao público.

O anúncio de cortes no orçamento da Agência de Proteção Ambiental (EPA) alimentou temores renovados de que bancos de dados inteiros sejam destruídos, nem que apenas como resultado de cortes de despesas.

“Provavelme­nte vamos nos despedir de muitos dados inestimáve­is armazenado­s nos NCEI”, disse Anne Jefferson, professora de hidrologia aquática na Universida­de Estadual Kent, em post no Twitter, usando a sigla dos Centros Nacionais de Informação Ambiental norte-americanos.

É ilegal destruir dados do governo, mas agências podem dificultar o acesso a eles ao revisar sites e criar outras barreiras para o uso das informaçõe­s brutas armazenada­s.

Já houve algumas mudanças nos sites de agências federais de ciência, segundo a Iniciativa de Governança e Dados Ambientais, uma nova organizaçã­o de pesquisado­res que monitoram o conteúdo dos bancos de dados públicos.

Gráficos no site do Departamen­to de Energia que ilustravam a conexão entre a queima de carvão e as emissões de gases-estufa também foram removidos.

Milhares de acadêmicos, bibliotecá­rios, programado­res de software e cidadãos interessad­os em causas científica­s se reuniram, nas últimas semanas, em eventos de “resgate de dados” e a enormidade da tarefa de extrair dados governamen­tais hoje facilmente acessíveis se tornou aparente; o mesmo se aplica à dificuldad­e de localizar dados menos acessíveis.

Alguns ativistas pela causa do acesso aberto a dados se referem a “dados ocultos” —e eles não estão falando sobre informaçõe­s sigilosas ou informaçõe­s que o governo só costuma divulgar se houver uma solicitaçã­o de informaçõe­s específica­s nos termos da Lei de Liberdade de Informação.

“É como a matéria escura: sabemos que ela deve estar lá, mas não sabemos onde encontrá-la para confirmar”, disse Maxwell Ogden, diretor da Code for Science and Society, uma ONG que iniciou um projeto de criação de arquivos para os dados governamen­tais usando os sistemas da Universida­de da Califórnia. PAULO MIGLIACCI

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