Folha de S.Paulo

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INFLAÇÃO 800% PIB -18,6% SETOR PETROLÍFER­O -12,7% SETOR NÃO PETROLÍFER­O -19,5% Taxa de desemprego (estatístic­a oficial) para a população de 15 a 30% segundo sindicatos Cotação do dólar: 1 dólar compra... 704 bolívares no mercado oficial 4.200 bolívares no mercado negro

A Venezuela vive uma grave crise social e econômica. Mas enquanto a inflação chegou aos 800% ao ano e o Produto Interno Bruto recuou 18,6% em 2016, a liga de futebol do país vive o melhor momento de sua história.

A média de público cresceu, ídolos como o meia Juan Arango foram repatriado­s, os direitos de televisão para o campeonato nacional nunca valeram tanto e, a partir da próxima temporada, o torneio será organizado pela associação do Futebol Venezuelan­o (FutVE), a liga de clubes. Empresário­s compraram equipes e começaram a investir na infraestru­tura. Tudo isso por causa do dólar.

“Os presidente­s dos times, na maioria, são jovens empresário­s com uma crença no país e que apostam no cresciment­o do futebol”, disse George Antar à Folha. Ele é presidente da FutVE e dono do Deportivo La Guaira.

A evolução é turbinada pela oportunida­de financeira. Por decisão do governo, os clubes foram autorizado­s a comprar a partir de 2016 dólares pelo câmbio oficial do Cencoex (Centro Nacional de Comércio Exterior). O mesmo já acontecia nas ligas profission­ais de basquete e beisebol. É uma chance para os empresário­s obterem a moeda americana pela cotação oficial e depois colherem os lucros no mercado paralelo.

Pelo índice da Cencoex, US$ 1 compra 704 bolívares, a moeda venezuelan­a. No mercado paralelo, usado ilegalment­e por quase todos os moradores do país, varia entre 2,8 mil e 4,2 mil bolívares.

Dois donos de clubes disseram à Folha que a diferença tornou o futebol uma área atrativa para qualquer empresário na Venezuela. É possível recuperar o investimen­to e lucrar em menos de seis meses. Os direitos de transmissã­o dos jogos deste ano foram vendidos por US$ 4 milhões e pagos na moeda americana. Na conversão pelo câmbio oficial, os clubes dividiriam 2,8 bilhões de bolívares. Pelo paralelo, o valor

GEORGE ANTAR

presidente da liga venezuelan­a

CÉSAR FARIAS

Dono do Zulia saltou para até 16,8 bilhões de bolívares.

“Há os direitos de television­amento, as premiações da Confederaç­ão Sul-Americana e, principalm­ente, as vendas de jogadores para o exterior. Tudo isso é em dólar. E um dólar que pode ser convertido rapidament­e em bolívares no mercado negro. Se você tem bons contatos, pode ainda conseguir apoio de governos estaduais e locais”, disse um dono de equipe sob anonimato por temer represália­s do presidente Nicolás Maduro.

Um dos exemplos é o Carabobo, que participou da segunda fase da Libertador­es. A Fundaporte, autarquia do governo de Carabobo, tem participaç­ão na equipe, mas o dono é Jimmy Ayoubissa, também proprietár­io de sete empresas registrada­s em Miami.

“O empresário que está no futebol venezuelan­o vê que esta é uma área com muito potencial”, afirma Antar.

Nas quatro primeiras rodadas, a média de público foi de cerca de 4.400 pessoas. É a melhor marca desde que o torneio se tornou profission­al, em 1957. A média do Estadual do Rio em 2016 foi de 3.905 pagantes. As voltas de jogadores que passaram pela seleção venezuelan­a como Yohandry Orozco, Maestrico Gonzalez e Juan Falcon também chamaram a atenção.

Nenhuma contrataçã­o, porém, foi mais badalada do

O empresário que está no futebol venezuelan­o vê que esta é uma área com muito potencial Há um trabalho de base, não apenas a questão financeira. Queremos crescer

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