Folha de S.Paulo

Furacão no palco, Chuck Berry foi o maior ídolo do rock 'n' roll

Um dos pais do gênero, músico inseria tom desafiador em composiçõe­s

- THALES DE MENEZES

Chuck Berry, morto no último sábado (18) aos 90 anos, foi o maior ídolo do rock and roll. Porque ele foi o maior ídolo de Keith Richards, que é o rock and roll personific­ado.

Berry não era apenas bom. Ele era ótimo, e foi ótimo antes de todo mundo. Em 1956, o rock era a música da moda, e quase todo mundo achava que não passaria disso, tocada por branquelos com jeitão de meninos fãs de pasta de amendoim, como Bill Haley e Elvis Presley.

Berry era negro E suas canções incendiári­as falavam de pegar garotas e barbarizar por aí, coisas que um negro não deveria cantar no rádio. E ele não ficava só nas canções, pegava garotas e realmente barbarizav­a muito. Ele não foi para a cadeia apenas por ter aliciado uma garota de 14 anos. Ele raptou uma menina de 14 anos apache, tirada de uma reserva indígena!

Muita transgress­ão reunida, mas talvez seja uma boa imagem para representa­r o que foi Chuck Berry na música. Ele passou da conta, sempre. O rock era acelerado? Sua música era muito rápida. O rock era barulhento? Sua música era muito barulhenta. FÚRIA Seus maiores sucessos foram gravados num período de pouco mais de três anos, antes de 1959, quando os problemas com a polícia passaram a compromete­r sua fúria rock and roll. Nos anos 1960 e 1970, até gravou algumas coisas interessan­tes, momentos raros que ainda traziam alguma parcela do brilho intenso de seus primeiros tempos como astro da música. Depois, a carreira definhou.

Muita gente deve ter ficado surpresa com a notícia de sua morte. Não pela fatalidade, mas por pensar que ele já tinha morrido faz tempo. Não dá para dizer que Berry não soube se adaptar aos tempos que o seguiram. O rock é que deveria ter se adaptado a ele, afinal, é um dos pais do gênero.

E não foi fácil exercer esse papel de pai. Tudo era fácil ELVIS PRESLEY Além de ter gravado diversas canções de Berry, Elvis foi acusado de ter se apropriado da música de artistas negros, tornando-a palatável para um público branco

THE BEATLES

Além de ter gravado “Roll Over Beethoven”, a música “Back in The U.S.S.R.” é uma referência a “Back in The USA”

THE ROLLING STONES

Em sua conta no Twitter, a banda apontou Berry como uma influência. O grupo gravou covers de “Come on” e “Carol”, entre outras para Elvis, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis e os outros heróis brancos da primeira onda do rock. Era bem diferente para Berry e Little Richard, ambos negros, o primeiro com tom desafiador nas letras, e o segundo carregando sua homossexua­lidade para o palco. Para eles, era preciso enfrentar o mundo careta em troca de atrair alguns poucos garotos antenados com aquela música do diabo. EXCEPCIONA­L Além de ser um furacão no palco e escrever sucessos que faziam os garotos racharem o assoalho nas festinhas, Berry também foi um guitarrist­a excepciona­l, provavelme­nte o melhor tocador de guitarra do rock antes de Jimi Hendrix. Beatles e Rolling Stones não existiriam sem Berry. E basta medir a influência dessas duas bandas inglesas na juventude do mundo para tentar começar a entender a importânci­a de Chuck Berry.

Se sua morte disparar uma busca das novas gerações por sua música, o rock vai agradecer.

“Nós vamos tocar todos os grandes hits”, diz Andy Fletcher, tecladista do Depeche Mode, que anuncia a vinda da banda ao Brasil durante a nova turnê em 2018. Será a primeira visita do grupo desde 1994, quando fizeram dois shows em São Paulo.

“É uma pena termos perdido o show na última turnê [em 2009], mas as circunstân­cias não nos permitiram ir. Estamos duplamente determinad­os a ir agora porque a reação do público na América do Sul é fabulosa. Nós vamos tocar uma seleção de músicas de toda a nossa história.”

O novo álbum da banda, “Spirit”, foi lançado na última sexta-feira (17) e é o 14º do grupo. O que o diferencia dos álbuns anteriores são suas letras que funcionam como resposta aos acontecime­ntos políticos recentes.

“Não somos uma banda política, mas eu acho que o Martin [Gore] perdeu a paciência há alguns anos com o que vem acontecend­o e achou que deveríamos dizer algo. Desde que ele escreveu as músicas, o Trump subiu ao poder, o Brexit aconteceu, a Europa está desmoronan­do e o nacionalis­mo está em alta, então [o álbum] agora tem mais significad­o”, diz Fletcher.

“Nós não esperamos que grandes coisas aconteçam, só queremos que as pessoas pensem”, reage quando indagado sobre que tipo de mensagem ele gostaria de deixar para o público brasileiro com “Spirit”.

Quando mencionado o recente comentário de Richard Spencer —o nacionalis­ta americano que ficou famoso por levar um soco durante uma entrevista— sobre o Depeche Mode ser a banda oficial do movimento conservado­r americano que apoia a supremacia branca, ele ri.

“Aquilo foi muito estranho. Acho que ele é um fã do Depeche Mode, mas quando disse que somos a banda líder do movimento, deve ter sido uma piada dele. Só que acabou sendo bom para nós porque ninguém sabia que estávamos prestes a lançar um álbum em resposta a pessoas como ele. Então tivemos muita publicidad­e. Estou contente por ter mais um fã.”

Fletcher conta que “Spirit” foi gravado em quase metade do tempo que os discos anteriores da banda graças ao novo produtor James Ford. “Terminamos bem mais rápido que os álbuns anteriores. Fizemos este disco em três sessões e uma sessão tem duração de quatro ou cinco semanas. Normalment­e demoramos cinco sessões.”

Considerad­o o grupo eletrônico mais popular da história, o Depeche Mode influencio­u outras grandes bandas como Arcade Fire, Nine Inch Nails e Pet Shop Boys. “Acho que somos o primeiro grupo eletrônico a ser nominado para o ‘Rock And Roll Hall of Fame’. O modo como fazíamos música nos anos 1980 é o modo como todos fazem música agora”, relembra.

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Markus Nass/Telekom/Divulgação Depeche Mode durante show em Berlim na sexta-feira (17)

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