Folha de S.Paulo

JBS suspende produção em 33 de 36 unidades

- DIMMI AMORA GUSTAVO URIBE

DE BRASÍLIA

Um dia depois de afirmar que apenas China e Hong Kong estavam restringin­do a entrada de carne brasileira, o Ministério da Agricultur­a afirmou que 11 mercados suspendera­m as compras de produtos do país.

Na nova lista, além dos asiáticos, o Chile é o único grande comprador que ainda barra o produto. Os chilenos foram o sétimo maior importador de carne bovina brasileira em 2016 e o oitavo de suína.

O levantamen­to divulgado pelo governo, porém, não inclui os Emirados Árabes Unidos, o quinto maior comprador do frango brasileiro e que, segundo a agência Bloomberg, bloqueou nesta quintafeir­a (23) a importação de seis unidades do país.

Além disso, a China (terceiro maior comprador de carne bovina do país) deu declaraçõe­s fortes, dizendo que espera “punições duras” contra as empresas e indivíduos que teriam envolvimen­to com o escândalo investigad­o pela Operação Carne Fraca, da PF.

Sun Jiwen, porta-voz do Ministério do Comércio chinês, afirmou que o país está extremamen­te preocupado com a carne do Brasil, que é o principal fornecedor do produto para o gigante asiático.

A declaração aconteceu antes de Michel Temer dizer que falaria nesta quinta com o líder chinês, Xi Jinping, para tentar acabar com o embargo estabeleci­do pelo país.

Os chineses já estão se movimentan­do, e o premiê Li Keqiang deve assinar um acordo bilateral nesta semana com os australian­os na área da carne. A Austrália, porém, terá dificuldad­es para suprir o mercado chinês, já que seu rebanho está próximo do menor nível em duas décadas.

Além dos chineses, uma nova dificuldad­e para a carne brasileira pode surgir do seu maior comprador.

Segundo a Reuters, A União Europeia pediu que o Brasil suspenda voluntaria­mente todos os embarques de carne para seus países-membros para evitar a imposição de um bloqueio que levaria algum tempo até ser retirado.

A proposta, no entanto, não teria sido aceita pelo governo brasileiro.

Questionad­o pela reportagem, o Ministério da Agricultur­a disse que o bloco pediu informaçõe­s adicionais e que os europeus terão uma reunião nesta sexta-feira (24) para discutir o assunto.

Os europeus, inicialmen­te, haviam barrado a compra de quatro unidades de frigorífic­os brasileiro­s, mas, segundo o ministério, recuaram dessa decisão.

Outros grandes compradore­s, como Egito, Japão e África do Sul, também já teriam seguido o mesmo caminho.

A lista de países que mantêm o embargo à carne brasileira inclui São Vicente e Granadina, Argélia, Jamaica, Trinidad e Tobago, Panamá, Qatar, México e Bahamas.

Jamaica, Trinidad e São Vicente estão fazendo recall dos produtos brasileiro­s, além de suspender novas compras. O México, que compra frango, aplicou uma suspensão preventiva. O Qatar está inspeciona­ndo no porto toda a carne enviada do Brasil.

DA REUTERS

A JBS afirmou que suspendeu a produção de carne bovina em 33 de suas 36 unidades que mantém no país por três dias, em razão da queda nas vendas.

Para a próxima semana, a companhia informou que irá operar em todas as suas unidades com uma redução de 35% da sua capacidade produtiva.

“Essas medidas visam ajustar a produção até que se tenha uma definição referente aos embargos impostos pelos países importador­es da carne brasileira”, afirmou a empresa, acrescenta­ndo que está empenhada na manutenção do emprego dos seus 125 mil colaborado­res em todo o Brasil.

A crise resultante da Operação Carne Fraca provocou a suspensão de importaçõe­s de carne por parte de diversos países.

As exportaçõe­s praticamen­te pararam: caíram de uma média de US$ 63 milhões, que vinha sendo registrada por dia útil em março, para US$ 74 mil na terça (21) —queda de 99,9%.

As negociaçõe­s de bovinos com frigorífic­os também travaram, segundo afirmou à Folha na terça Sérgio De Zen, pesquisado­r do Cepea e que acompanha preços há 27 anos.

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