Folha de S.Paulo

Chanceler da Venezuela diz que OEA quer desestabil­izar o país

Organizaçã­o ameaça suspender Caracas se não houver eleições

- ISABEL FLECK

Em sessão do Conselho Permanente da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) convocada pela Venezuela, a chanceler Delcy Rodríguez acusou o secretário-geral do organismo, Luis Almagro, e o grupo de 14 países — entre eles o Brasil—, que assinaram uma declaração na última semana pressionan­do Caracas de tentarem intervir na Venezuela.

Sentada ao lado de Almagro, que recentemen­te ameaçou convocar uma votação para suspender o país da OEA, Rodríguez chamou nesta segunda (27) o uruguaio de “mentiroso, desonesto, malfeitor, mercenário e traidor”.

Disse ainda que Almagro e o grupo de 14 países, que chamou de “facção minoritári­a”, estão a serviço dos EUA, executando um plano articulado por Washington para atingir seu país.

“[Almagro] carece de imparciali­dade quando, sem escrúpulos, organiza uma campanha com recursos dessa organizaçã­o para desestabil­izar a Venezuela enquanto finge não ver as enormes violações cometidas pelo país que paga o seu salário”, afirmou. O uruguaio não respondeu às acusações.

Apesar de o governo venezuelan­o, horas antes da sessão, ter pedido o cancelamen­to de uma reunião marcada para a terça (28), para discutir a situação política do país, Rodríguez não defendeu a ideia em sua fala por não ter votos suficiente­s para reverter a convocação.

A sessão de terça foi pedida por 18 países —que já representa­m maioria entre os 34 países-membros atuantes (são 35 com Cuba, que ainda não quis retornar ao bloco).

A ideia é discutir o relatório apresentad­o por Almagro no último dia 14, no qual ele aponta exemplos de como Nicolás Maduro “está destruindo a democracia” na Venezuela, limitando, por exemplo, o trabalho da Assembleia Na- cional, de maioria opositora.

No documento, o ex-chanceler uruguaio ameaçou convocar uma votação para suspender Caracas do grupo se, em 30 dias, o país não convocar eleições, libertar opositores e alterar a composição da Justiça e do órgão eleitoral.

Uma suspensão agora é vista como uma medida “extremada” pelo Brasil e por outros países que assinaram a declaração na última quinta. No texto, eles dizem ser esse o “último recurso”, a ser considerad­o “após se esgotarem os esforços diplomátic­os dentro de um prazo razoável”.

“O Brasil não favorece nenhuma decisão extremada, especialme­nte a que está contida no relatório do Almagro, que é midiática. Queremos solução com base no diálogo, na moderação”, disse o embaixador do Brasil na OEA, José Luiz Machado e Costa.

Na reunião desta terça, os países devem discutir a possível convocação de uma reunião de chancelere­s para tratar da questão da Venezuela antes da Assembleia Geral da OEA, no México, em junho. São os ministros que podem definir, por exemplo, o que seria o “prazo razoável” a ser dado a Maduro antes de discutir a suspensão do país.

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