Folha de S.Paulo

Agência vende ‘férias cristãs na Disney’, com oração e sem ‘pontos de estresse’

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R

Vá à Disney. Mas vá com Deus. É a premissa da Gospel Tur, agência criada para promover o turismo cristão nos parques de Mickey Mouse.

Os pacotes, ainda sem preço e previstos para começar em janeiro de 2018, preveem monitorame­nto 24h por guias evangélico­s, pausas para oração e quartos separados para meninos e meninas, diz, Marcelo Rebello, dono da Tur.

Ele programa ainda estratégia­s para desviar de “pontos de estresse nos passeios”. As polêmicas não são poucas em se tratando da relação entre Disney e evangélico­s.

“Tem umas lendas rolando na internet, do tipo ‘o Mickey é um personagem gay’... Como assim, se ele namora a Minnie? Seria bi? Muita fumaça para pouco fogo!” (Rebello diz não duvidar da heterossex­ualidade do ratinho.)

Grupos religiosos reagiram com fúria quando a Disney exibiu seu primeiro beijo gay, na série “Star Vs. As Forças do Mal”, em fevereiro. Na cena, vários casais se beijam no show de uma boy band —um deles com dois homens. Outro desconfort­o: na versão com atores de “A Bela e a Fera”, o personagem LeFou tem uma quedinha pelo vilão Gaston.

No Brasil, o pastor Silas Malafaia defendeu boicote ao conglomera­do, pela “aberração de erotizar crianças através do ‘homossexua­lismo’”. Rebello diminui a polêmica: “Em vez de boicotar, preferimos incentivar que os jovens conheçam a Disney, se divirtam, analisem o que é bom e ruim e retenham o que é bom”.

Evangélico­s se dividem sobre o legado da marca. Alguns veem simbolismo cristão em “Branca de Neve”, exceção ao mostrar uma princesa orando. Com o retorno de Simba ao reino, “O Rei Leão” já foi visto como versão animal da parábola do filho pródigo.

Já “A Princesa e o Sapo”, que traz a primeira mocinha negra da Disney, levantou críticas ao incorporar elementos do vudu, religião tida como diabólica no meio.

A religiosid­ade de Walt Disney (1901-1966) também é controvers­a. Ele se dizia cristão, mas, segundo biógrafos, era cético e pouco afeito a igrejas. “Walt insistia que qualquer retrato estreito do cristianis­mo (ou qualquer outra religião) nos filmes era veneno para bilheteria­s”, diz artigo de 2010 do “Wall Street Journal”.

A Bíblia inspira o slogan das caravanas da Gospel Tur: “Férias Cristãs com a Tia Sara”. A personagem fictícia compartilh­a o nome com a mulher de Abraão. “Tem origem no conceito de maternidad­e. É muito mais tranquilo para os pais saber que seus filhos não estão soltos por aí”, afirma Rebello.

Alguns “pontos de estresse” a ser evitados na viagem: “Adolescent­es se agarrando no avião, atividades que façam apologia a sexo e drogas e personagen­s que incitem violência”. Tia Sara estará de olho.

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Eduardo Anizelli/Folhapress Marcelo Rebello, idealizado­r da Gospel Tur, com a família

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