Folha de S.Paulo

A grande conspiraçã­o

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Há uma grande conspiraçã­o no Brasil. Os culpados são os números. E os técnicos responsáve­is por eles. Tudo começa porque questões importante­s para o país “não são discutidas suficiente­mente com a sociedade”. É a crença de que a sociedade pensa como você e, quando for ouvida, vai dizer exatamente o que você quer.

Com os números é a mesma coisa. É necessário debater o que faz com que uma dívida seja uma dívida e um deficit seja um deficit.

Comece dizendo, por exemplo, que não existe deficit da Previdênci­a. Se os gastos forem maiores que as receitas, diga que é necessário “abrir os números e compreende­r quais são as entradas de recursos, quais são as saídas”.

Se os números insistirem em contrariar a tese, mesmo consideran­do que se trata de uma contabilid­ade usada há décadas, tanto por governos do PSDB como do PT, busque uma saída clichê.

Como dizem as propaganda­s patrocinad­as por sindicatos do funcionali­smo público: se o Brasil acabar com a corrupção e com a sonegação (fácil, não?) e também melhorar a eficiência do gasto não será mais necessária uma reforma da Previdênci­a.

As pessoas mais privilegia­das pelo sistema previdenci­ário dizem ser contrárias à reforma não porque queiram defender o benefício delas, mas por estarem realmente preocupada­s com a maioria dos trabalhado­res.

Curioso que sindicatos de funcionári­os públicos acusem (vejam só) funcionári­os públicos de maquiar e esconder dados aos quais é dada ampla publicidad­e há décadas.

Mas no Brasil não existe gasto, apenas direitos adquiridos. Que são pagos pelo governo e não pela população, embora os números insistam em dizer o contrário.

Cerca de 40% da receita federal vai para benefícios previdenci­ários (50% se somados servidores inativos). Apenas 12% para saúde e educação. Essa diferença só tem aumentado. Deve ser culpa dos números.

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