Empreiteiro mente, rebate defesa de petista
O empresário Léo Pinheiro, sócio da OAS, disse em depoimento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a ele em 2014 que destruísse provas de pagamento de propina para o PT.
Segundo Pinheiro, Lula e ele discutiam sobre pagamento de suborno em maio de 2014, dois meses depois de a Lava Jato ter sido iniciada.
Lula teria perguntado se a OAS pagava propina ao PT no Brasil ou no exterior, segundo o relato feito pelo empreiteiro. Pinheiro respondeu que pagava no Brasil.
O ex-presidente quis saber, então, se Léo Pinheiro mantinha os registros dos pagamentos feitos ao tesoureiro do PT à época, João Vaccari Neto. Pinheiro disse que “não costumava fazer isso”.
Lula teria dito, segundo Pinheiro: “Você tem algum registro de algum encontro de contas, de alguma coisa feita com João Vaccari? Se tiver, destrua”.
Em maio de 2014, a Operação Lava Jato tinha prendido o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, mas só chegaria aos donos das empreiteiras em novembro.
Condenado a 39 anos de reclusão e preso pela segunda vez desde setembro do ano passado, Pinheiro negocia um acordo de delação.
A defesa de Lula diz que a versão sobre destruição de provas é mentirosa e foi combinada com procuradores. TRÍPLEX Pinheiro prestou depoimento ao juiz Sergio Moro no processo sobre a reforma de um tríplex em Guarujá (SP), no qual ele e Lula são réus. O Ministério Público afirma que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em propina paga pela OAS, oriunda de contratos da Petrobras. O valor teria sido investido na reforma do tríplex.
O empreiteiro afirmou que o apartamento pertencia ao ex-presidente Lula.
A audiência foi tensa. Moro e o advogado de Lula elevaram o tom de voz e discuti- ram diversas vezes.
Segundo Pinheiro, foi Vaccari quem o procurou para participar do empreendimento onde foi construído o tríplex, o Condomínio Solaris, que era da Bancoop, cooperativa de bancários, até 2009. A OAS depois assumiu o empreendimento.
“Eu fiz uma ressalva que a empresa só atuaria em grandes capitais”, disse Pinheiro. “Ele me disse: ‘Olhe, aqui tem algo diferente. Existe um empreendimento que pertence à família do presidente Lula. Diante do seu relacionamento com o presidente, o relacionamento da empresa, nós estamos lhe convidando para participar disso’”.
Pinheiro disse que procurou Paulo Okamotto, atual presidente do Instituto Lula, que confirmou a informação.
No depoimento, o advogado de Lula perguntou a Pinheiro: “O senhor entende que o senhor deu a propriedade desse apartamento para o ex-presidente Lula?”.
O ex-presidente da OAS respondeu: “O apartamento era do presidente Lula desde o dia que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop, já foi me dito que era do presidente Lula e sua família, que eu não comercializasse e tratasse aquilo como uma coisa de propriedade do presidente”.
De acordo com Pinheiro, em janeiro de 2014, o presidente teria solicitado uma visita ao apartamento para definir novas reformas.
“Na última visita ao apartamento, eu estive com a dona Marisa e o filho do presidente, o Fábio, em agosto de 2014. Uma solicitação dela é que a família queria passar as festas de fim de ano no apartamento, então nós nos comprometemos a entregar tudo antes das festas. Eu fui preso em novembro, então não sei como acabou isso”.
Pinheiro disse que usou dinheiro que seria desembolsado como propina para custear a reforma do apartamento e que Lula sabia disso.
Questionado pelo advogado de Lula se “usou valores provenientes da Petrobras para fazer alguma reforma desse imóvel”, ele respondeu: “Não, não, não. Eu usei valores de pagamento de propina para poder fazer um encontro de contas. Em vez de pagar X, eu paguei X menos despesas que entraram no encontro de contas”.
Pinheiro fez o seguinte relato para explicar o suposto encontro de contas: “Vaccari me disse, naquela ocasião, que, como se tratava de despesas pessoais, ele iria consultar o presidente. Voltou para mim e disse: ‘Tudo ok, você pode fazer o encontro de contas’. Então, não tem dúvida se ele sabia ou não. Claro que sabia”. As contas girariam em torno de R$ 15 milhões, segundo o empreiteiro.
Lula deve prestar depoimento a Moro nesse processo no próximo dia 3 de maio. (MARIO CESAR CARVALHO, CAROLINA LINHARES
BILENKY) E THAIS
DE SÃO PAULO
O Instituto Lula e os advogados do ex-presidente chamaram de mentirosa a declaração do empresário Léo Pinheiro sobre o pedido para destruir provas.
Também disseram que a acusação foi combinada por procuradores para que eles aceitem o acordo de delação premiada que o empreiteiro negocia com o órgão.
“A versão fabricada de Pinheiro foi a ponto de criar um diálogo —não presenciado por ninguém— no qual Lula teria dado a fantasiosa e absurda orientação de destruição de provas sobre contribuições de campanha, tema que o próprio depoente reconheceu não ser objeto das conversas que mantinha com o ex-presidente”, afirma nota de um dos advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins.
“É uma tese esdrúxula que já foi veiculada até em um e-mail falso encaminhado ao Instituto Lula”, afirma.
Martins rebateu também a declaração do empreiteiro de que o tríplex de Guarujá, no litoral paulista, é de Lula. A nota diz: “A afirmação de que o tríplex do Guarujá pertenceria a Lula é também incompatível com documentos da empresa, alguns deles assinados por Léo Pinheiro”.
A defesa ressalta ainda que as declarações vão de encontro a outras dadas por membros da empresa. “É a palavra dele contra o depoimento de 73 testemunhas, inclusive funcionários da OAS, negando ser Lula o dono do imóvel.”
Para o advogado de Lula, o empresário “foi claramente incumbido de criar uma narrativa que sustentasse ser Lula o proprietário do chamado tríplex do Guarujá”.
O Instituto Lula diz que a acusação sobre destruição de provas “é desprovida de provas e faz ilações sobre supostos acontecimentos de três anos atrás que jamais ocorreram”.
A Folha procurou o advogado de João Vaccari Neto, Luiz Flávio Borges D´Urso, sem sucesso.