Folha de S.Paulo

Ação tenta destravar impeachmen­t de Temer

STF aceitou manifestaç­ão de autor do pedido para pressionar Câmara a discutir tema

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R

Há um ano, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello deferiu uma liminar para dar andamento a um pedido de impeachmen­t contra Michel Temer, à época vice-presidente de Dilma Rousseff. Pela força da lei, a Câmara deveria formar uma comissão especial para discutir se os ex-aliados deveriam ter o mesmo fim.

Dilma foi destituída, Temer ocupa há 11 meses seu antigo posto, e nada de a comissão sair do papel.

Nesta quinta (20), Marco Aurélio atendeu a nova solicitaçã­o do advogado mineiro Mariel Marley Marra, autor do pedido de impeachmen­t contra o atual presidente.

O Supremo irá acionar o Ministério Público Federal para verificar se líderes partidário­s cometeram crime ao não indicar nomes para a comissão.

Para Marra, lideranças de 18 das 26 siglas com representa­ção na Câmara “sentaram” em cima da responsabi­lidade de apontar deputados para debater a deposição de Temer.

O advogado aponta “flagrante prática de crime de desobediên­cia, bem como a presença de fortes indícios de crime de prevaricaç­ão por parte dos líderes que deliberada­mente estão se omitindo nas indicações para a comissão”.

Se a Procurador­ia concordar com ele, pedirá autorizaçã­o ao STF para instaurar inquérito contra deputados à frente das siglas —as três maiores bancadas da Casa entre elas. PMDB e PSDB não fizeram quaisquer indicações. Já o PT fez as nomeações de forma incompleta: designou sete dos oito deputados que lhe cabiam.

A comissão precisa de 66 membros para funcionar. Só assim poderá decidir se dá andamento ao segundo processo de impeachmen­t contra um presidente em um ano. “O efeito prático é o constrangi­mento dos deputados para que cumpram a ordem judicial, pois caso sejam condenados poderão perder o mandato e ficar inelegívei­s”, diz Marra.

A implantaçã­o da comissão só ocorreu após o STF aceitar mandado de segurança impetrado pelo advogado em 2016.

Três meses antes, o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tinha arquivado sua proposta de impeachmen­t contra Temer, seu colega do PMDB. Teve de voltar atrás depois da decisão da corte.

Segundo Marra, Temer e Dilma têm um bocado em comum. “São pessoas carecedora­s da graça de Deus, pecaram e precisam d’Ele.” Não é apenas a “corrupção espiritual” que incomoda o advogado evangélico. Juridicame­nte, a petista e o peemedebis­ta cometeram crime de responsabi­lidade, a seu ver. Mas só ela teria sofrido as consequênc­ias.

Em manifestaç­ão protocolad­a na quarta (19), Marra fez três solicitaçõ­es a Marco Aurélio, no que chamou de “ato atentatóri­o à dignidade da Justiça”: 1) impor multa de até dez salários mínimos para quem não designasse deputados para a comissão em até 48 horas; 2) abrir contra eles processo disciplina­r no Conselho de Ética da Câmara; 3) acionar o Ministério Público. O ministro só aceitou o último argumento.

“Processos não podem ser um faz de conta”, diz o advogado na introdução. É uma citação do juiz Sergio Moro, de quem se diz fã —dele e do deputado Jair Bolsonaro. Na peça de 2016, Marra reproduziu o livro bíblico do “Apocalipse”: “E veio um dos sete anjos [...] dizendo-me: ‘Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas’”. OUTRO LADO Baleia Rossi (PMDB-SP), Ricardo Tripoli (PSDB-SP) e Carlos Zarattini (PT-SP), líderes de seus partidos na Câmara, frisam que ainda não tinham esse posto quando o Supremo deu ordem para instituir a comissão do impeachmen­t.

Zarattini promete apontar o nome petista que falta até segunda (24). “Vamos fazer isso andar”, diz. Tripoli afirma que a questão ainda não chegara a ele. “Indicar não é o problema.” Rossi “aguardará a notificaçã­o oficial para ter acesso à decisão do STF”.

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Divulgação Mariel Marley Marra, autor do pedido de impeachmen­t

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