Folha de S.Paulo

Cinco morrem em conflito por terra em MT

- PABLO RODRIGO

Pressionad­a pelos seguidos cortes orçamentár­ios e pela extinção de 87 cargos em comissão, a Funai (Fundação Nacional do Índio) suspendeu as atividades de 5 das 19 bases de proteção a índios isolados e de recente contato e analisa fazer o mesmo com outras seis unidades.

A falta de recursos também obrigou a Funai a retirar de campo seis funcionári­os que participav­am da Operação Curareting­a 9, que visa combater garimpo na área indígena ianomâmi, em Roraima.

As Bases de Proteção Etnoambien­tal (Bapes) são vinculadas às 11 Frentes de Proteção Etnoambien­tal (FPE) da Funai e têm a dupla função de monitorar e proteger índios isolados e de assegurar os direitos de etnias de recente contato com o branco.

Com a medida, funcionári­os e equipament­os foram retirados dessas cinco bases nas últimas semanas. Três estão na região do rio Purus, no sul do Amazonas —uma segue aberta apenas para o funcioname­nto de uma enfermaria do Ministério da Saúde.

As outras duas bases suspensas estão localizada­s no Vale do Javari, na fronteira com o Peru e palco de conflitos recentes entre etnias isoladas e de recente contato. Só uma base foi mantida no local, sob ameaça de fechamento.

Na avaliação interna do órgão indigenist­a, as Bapes já funcionava­m de forma precária, principalm­ente por falta de pessoal. Há atualmente 70 servidores, quando o mínimo necessário seria o dobro.

Na FPE Madeirinha-Juruena (MT), por exemplo, há cinco servidores para monitorar uma área de 3 milhões de hectares, o equivalent­e a 20 municípios de São Paulo.

Pressionad­o por funcionári­os da Funai sobre o assunto, o presidente do órgão, Antônio Costa, demissioná­rio, admitiu nesta quarta (19) a “grave crise orçamentar­ia”, mas promete “os recursos necessário­s para o funcioname­nto das 11 FPEs”.

Com a extinção de cargos em março, 51 Coordenaçõ­es Técnicas Locais foram fechadas, das quais três eram ligadas a FPEs: uma na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau (RO) e duas na Terra Indígena Yanomami (RR).

Impossibil­itada de custear transporte e alimentaçã­o de seus servidores, a Funai teve de abandonar a Operação Curareting­a 9, feita em coordenaçã­o com outros órgãos e lideranças ianomâmis.

Os seis funcionári­os da Funai só participar­am durante os dez primeiros dias da operação, iniciada em 23 de março. A falta de verba atingiu também a PM amazonense, que tinha as despesas pagas pelo órgão indigenist­a e só deve ficar na metade dos 30 dias da segunda etapa. O foco da operação é a região do rio Uraricuera, onde a Funai estima que haja cerca de 4.500 garimpeiro­s atuando ilegalment­e em terra indígena. FOLHA,

Ao menos cinco pessoas foram mortas a tiros em um assentamen­to na zona rural de Colniza (MT), a 1.065 quilômetro­s ao norte de Cuiabá, na tarde desta quinta-feira (20).

Segundo a Polícia Civil do Mato Grosso, que estava a caminho do local até a conclusão desta edição, testemunha­s dizem que homens encapuzado­s invadiram o local por volta do meio-dia e atiraram nas famílias. Há crianças e idosos entre os mortos, dizem as testemunha­s.

A suspeita é de que os autores do crime sejam capangas de fazendeiro­s da região. Segundo a Polícia Civil, a Gleba Taquaruçu do Norte, como se chama o assentamen­to, abriga cerca de cem famílias.

A Comissão Pastoral da Terra, órgão ligado à Conferênci­a Nacional dos Bispos do Brasil, diz que o lugar tem histórico de conflitos agrários. A entidade havia registrado outros dez assassinat­os por disputas de terra neste ano no país.

 ?? Lalo de Almeida - 17.jun.2016/Folhapress ?? Índio munduruku navega em rio amazônico; Funai fechou postos de proteção na região
Lalo de Almeida - 17.jun.2016/Folhapress Índio munduruku navega em rio amazônico; Funai fechou postos de proteção na região

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