ANÁLISE Enigma é se França vai entrar na atual onda de populismo
FOLHA
Às vésperas do pleito presidencial deste domingo (23), a única certeza dos eleitores franceses é que a próxima pessoa a ocupar o Palácio do Eliseu, a partir de maio, terá sobrenome terminado em N.
O país chega à reta final do primeiro turno com quatro candidatos em condições de passar ao segundo (marcado para 7 de maio), no que é provavelmente a eleição mais indefinida da chamada Quinta República, iniciada em 1958.
Desde a Constituição promulgada naquele ano, com a eleição do general Charles de Gaulle logo depois, o parlamentarismo à francesa é um sistema em que o poder se concentra nas mãos do presidente, e não do premiê.
Entre os atuais interessados em morar no Eliseu, o centrista Emmanuel Macron tem 25% das intenções de voto, tecnicamente empatado com a representante da extrema direita, Marine Le Pen (com 22%), segundo pesquisa Harris realizada nos dias 18 e 19, com margem de erro de 1,5 ponto.
Logo atrás estão, ambos com 19%, o centro-direitista François Fillon e o candidato de extrema esquerda JeanLuc Mélenchon, cuja ascensão parece ter estancado nas últimas semanas. ONDA POPULISTA Para analistas políticos, o grande enigma desta eleição é saber se os franceses embarcarão na chamada “onda populista” que, em 2016, levou à vitória do ‘brexit’ e à eleição de Donald Trump nos EUA.
É um cenário possível caso os candidatos “extremos” (Le Pen e Mélenchon, ambos favoráveis a que a França saia da União Europeia) consigam chegar ao segundo turno.
Joga contra essa possibilidade o bom desempenho de Emmanuel Macron —uma espécie de Henrique Meirelles de François Hollande, presidente tão impopular que nem arriscou disputar a reeleição.
Ex-banqueiro, Macron foi ministro da Economia de Hollande até pular do barco e fundar o En Marche!, partido que, assim como o PPK do presidente peruano, Pedro Pablo Kuczynski, ostenta as mesmas iniciais do seu nome.
Do lado da centro-direita, o ex-premiê François Fillon, antes favorito, conseguiu sobreviver ao escândalo em que foi acusado de desviar dinheiro público com base num cargo supostamente fictício de sua mulher. Suas intenções de voto foram desidratadas, mas ele continua na disputa.
Nenhum dos quatro, no entanto, foi capaz de obter muito mais que a adesão de um quarto dos eleitores. As pesquisas dizem ainda que, caso Le Pen vá ao segundo turno (repetindo o feito de seu pai, Jean-Marie, em 2002), perderá em todos os cenários.
Se a adesão dos franceses à “onda populista” parece uma aposta incerta, o derretimento do Partido Socialista, de Hollande, é uma hipótese bem mais provável.
O candidato da sigla, o exministro da Educação Benoît Hamon, está a mais de dez pontos de distância do pelotão de frente, e ainda há o risco de que o PS perca cadeiras no Legislativo no pleito marcado para 11 e 18 de junho.