Folha de S.Paulo

Ícone nacional, Pixinguinh­a faria 120 anos

Para celebrar a efeméride, o IMS lança site com acervo do carioca; em SP, Itaú Cultural tem programaçã­o musical

- VICTORIA AZEVEDO

Também se relembra ‘Carinhoso’; por anos autor deixou de lado composição de 1917 por não ser choro clássico

“Se você tem 15 volumes para falar de toda música brasileira, fique certo de que é pouco. Mas, se dispõe apenas do espaço de uma palavra, nem tudo está perdido. Escreva depressa: ‘Pixinguinh­a’.”

O violonista e produtor Luís Filipe Lima se apoia na frase do crítico e historiado­r Ari Vasconcelo­s (1926-2003) para explicar a importânci­a de Alfredo da Rocha Viana Filho, o Pixinguinh­a (1897-1973), na história da música brasileira.

No domingo (23), o compositor, instrument­ista, maestro e arranjador carioca completari­a 120 anos —desde 2000, na data também se comemora o Dia Nacional do Choro.

“Ele representa um divisor de águas na história dos arranjos da música popular brasileira”, diz Lima.

Para celebrar a efeméride, o Instituto Moreira Salles, guardião de seu acervo há 17 anos, lança neste sábado (22) um site que reúne partituras manuscrita­s de suas composiçõe­s e arranjos, objetos pessoais, documentos, fotos, discografi­a e uma hemeroteca. O IMS também organiza programaçã­o musical para a data.

“A nossa ideia é que o site crie um movimento que transforme esse material em um patrimônio coletivo com a colaboraçã­o de todos”, diz Bia Paes Leme, coordenado­ra de música do instituto.

Para o músico Marcelo Vianna, neto do compositor, ainda há uma diferença entre a posição que Pixinguinh­a ocupa na consolidaç­ão da música brasileira e o reconhecim­ento que ele tem na prática. “É necessário oxigenar a sua obra e garantir que ela chegue às pessoas”, diz.

Em SP, o Itaú Cultural organiza série de shows para celebrar a data. Desta sexta (21) a domingo (23) apresentam-se os grupos Chorando em Ré Menor, Saxofonand­o e Galo Preto —todos com a obra de Pixinguinh­a como base.

As comemoraçõ­es também se transporta­m às telas. O longa “Pixinguinh­a - Um Homem Carinhoso”, de Denise Saraceni e Allan Fiterman, deve estrear em outubro.

O projeto, que existia havia alguns anos, enfrentou problemas e só foi rodado no começo deste ano. Para o produtor Carlos Molleta, tem por objetivo resgatar a figura do carioca e torná-lo mais conhecido para as novas gerações. ‘CARINHOSO’, 100? Pixinguinh­a morreu na igreja Nossa Senhora da Paz, no Rio, durante o batismo de um afilhado.

Na data, sairia pela primeira vez a Banda de Ipanema, cujo trajeto passava em frente a paróquia. Ao saberem do ocorrido, os ritmistas pararam o cortejo em frente ao local e tocaram “Carinhoso”. Desde então, todos os anos a banda repete o mesmo gesto.

A canção, uma de suas obras mais famosas, completa cem anos em 2017 —mas com alguma controvérs­ia.

Não há consenso sobre quando a obra, abandonada de início pelo próprio Pixinguinh­a por fugir ao formato convencion­al do choro, foi feita. “Existem três eventos: uma declaração de que ele compôs a música em 1917, a gravação instrument­al em 1927 e a com a letra em 1937”, explica Bia Paes Leme.

Clássico da MPB, ela já foi regravada por nomes que vão de Elis Regina a Tom Jobim e tem até versão em inglês: “Love is Like This”, para o filme “Romance Carioca” (1950).

“Se você puxar [a música] no violão em qualquer lugar do Brasil todos vão saber cantar junto”, diz Moletta.

 ?? Instituto Moreira Salles/Acervo Pixinguinh­a ?? Uma das fotografia­s do compositor que estarão disponívei­s no portal em sua homenagem
Instituto Moreira Salles/Acervo Pixinguinh­a Uma das fotografia­s do compositor que estarão disponívei­s no portal em sua homenagem

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