Folha de S.Paulo

Nem tão livres

-

Passou o tempo, diz o ativista Joel Simon, em que se acreditava ser impossível censurar ou controlar a informação na internet.

Com esse comentário, o diretor do Comitê de Proteção aos Jornalista­s (CPJ), ONG com sede em Nova York, talvez surpreenda quem justificad­amente comemora as facilidade­s que os meios eletrônico­s de comunicaçã­o asseguram a quem queira expressar suas próprias opiniões.

Já pertence ao conhecimen­to comum a ideia de que notícias falsas e quantidade nauseante de calúnias e ofensas circulam pelas redes sociais —tornando-as, ainda que livres, inconfiáve­is em larga medida.

Todavia, a própria sensação de que exista uma tão ampla liberdade se vê passível de contestaçõ­es. É esse o sentido da publicação “Ataques à Imprensa – A Nova Face da Censura”, que acaba de ser divulgada pelo comitê.

Não apenas ameaças diretas à vida e à liberdade de jornalista­s se manifestam em diversos países. Segundo o CPJ, regimes autoritári­os e organizaçõ­es criminosas passam cada vez mais a utilizar a tecnologia com o propósito de inviabiliz­ar a investigaç­ão jorna- lística e a circulação de notícias.

O bloqueio de sites, o emprego de sistemas eletrônico­s massivos de contraprop­aganda e o monitorame­nto de dissidênci­as são alguns dos instrument­os do que o texto chama de “repressão 2.0”.

A vanguarda nesse aspecto parece ser ocupada pela China. Há relatos de que o país teria desenvolvi­do um sistema de pontuação para avaliar os críticos de seu regime na internet, através do qual poderiam ser aplicadas sanções financeira­s como, por exemplo, redução do acesso ao crédito estatal.

Naturalmen­te, tais métodos se combinam com as intimidaçõ­es e ameaças ao velho estilo —em que o recente destaque é a Turquia, com 81 jornalista­s detidos em 2016.

A guerra da informação e da contrainfo­rmação, se não ameaça diretament­e a vida de jornalista­s, não deixa entretanto de pôr em risco a verdade dos fatos, quando a orquestraç­ão da propaganda política se empenha em burlar a investigaç­ão jornalísti­ca profission­al, apartidári­a, crítica e autocrític­a.

Independen­temente do meio que se utilize, esta continua a ser a melhor defesa para os cidadãos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil