Folha de S.Paulo

Venezuela anuncia que deixará a OEA

Decisão de governo chavista é reação a convocação de reunião que avaliaria suspensão de Caracas do organismo

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Movimento é inédito nos 69 anos do órgão; chanceler chama de ‘lacaios dos EUA’ países que apoiaram encontro

A Venezuela anunciou nesta quarta (26) a saída da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos), minutos depois de ser aprovada pelo organismo uma reunião de chancelere­s sobre a crise política no país. O movimento é inédito na OEA, criada em 1948.

O encontro recebeu o apoio de 19 dos 34 países membros, incluindo o Brasil. Nele, os ministros avaliariam se Caracas seria suspensa do bloco por considerar­em que o governo do presidente Nicolás Maduro violou a Carta Democrátic­a Interameri­cana.

Em discurso na TV estatal, a chanceler Delcy Rodríguez disse que a votação foi mais um indício da intenção da OEA de fazer uma intervençã­o liderada pelos americanos para derrubar o chavista.

“Sabemos que por trás do conclave deste grupo há a intenção de intervir e tutelar nosso país, o que nunca acontecerá. Esses países mercenário­s e lacaios apoiaram a política para limitar o direito da Venezuela ao futuro.”

Rodríguez chama de “mercenário­s e lacaios dos EUA” os países latinos que votaram a favor da reunião de chancelere­s e criticam Maduro.

O presidente referiu-se à saída como um “passo gigante contra o intervenci­onismo imperialis­ta”. “A Venezuela bolivarian­a, revolucion­ária e chavista continuará o caminho rumo a nossa verdadeira independên­cia e nada nem ninguém vai nos deter.”

Para a chanceler, o avanço da violência nos protestos se deve à declaração da OEA tratando como violação a sentença da Suprema Corte que tirava poderes do Legislativ­o, dominado pela oposição.

O texto foi aprovado em 3 de abril e todas as 29 mortes nas manifestaç­ões ocorreram após essa data. “Foi justamente a ação que deu origem a essa onda de violência em que a direita achou que tinha permissão para fazer o que quisesse na nossa pátria.”

Segundo Rodríguez, Caracas apresentar­á nesta quinta (27) a solicitaçã­o de saída, cujo processo estima levar 24 meses. O país ainda precisa pagar uma dívida de US$ 8,7 milhões com a OEA e a cota anual de US$ 1,8 milhão. Na terça (25), o governo ameaçara sair da organizaçã­o.

Para a oposição, deixar a OEA é mais um exemplo de que o chavismo deu um golpe de Estado. “É a constataçã­o do medo ao voto”, disse o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges.

Outros lembraram que, antes do fim do processo, devem ocorrer eleições presidenci­ais. “Nesta época esta cúpula narcocorru­pta estará na lata de lixo da história”, disse Henrique Capriles.

A reunião da OEA foi aprovada por Argentina, Barbados, Bahamas, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, EUA, Honduras, Guiana, Jamaica, Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru, Santa Lúcia e Uruguai.

A Venezuela parece cumprir a ameaça feita desde que Hugo Chávez (1954-2013) era presidente. Ele disse em 2009 que o órgão era “empregado do imperialis­mo ianque”.

Três anos depois, declarou que deixaria a Corte Interameri­cana de Direitos Humanos. Chávez fomentou a criação de alternativ­as à OEA.

Dentre elas, a Celac, onde, a pedido do chavismo, a crise venezuelan­a será discutida em reunião no dia 2. PROTESTOS Enquanto ocorria a votação na OEA, mais duas pessoa morriam em protestos no país. Juan Pablo Pernalete, 20, foi atingido no peito por uma bomba de gás em um ato opositor em Caracas. O governo diz que a vítima foi alvo de uma bomba caseira.

Horas depois, foi morto Efraín Sierra, baleado ao tentar tirar um barricada em Táchira. Os rivais de Maduro, que haviam previsto protestar no 1º de Maio, decidiram voltar às ruas nesta quinta.

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Ronaldo Schemidt/AFP Estudante reage ao aspirar gás lacrimogên­eo em protesto em Caracas; 29 pessoas morreram em manifestaç­ões em abril

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