Folha de S.Paulo

Trump reduz tom, mas instala escudo antimíssei­s para Seul

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DE SÃO PAULO

O governo americano baixou o tom das ameaças de ação militar contra a ditadura de Kim Jong-un, mas ao mesmo tempo iniciou a instalação de um sistema de defesa antimíssei­s na maior adversária do regime comunista, a Coreia do Sul.

A modulação no discurso de Donald Trump ocorreu durante uma reunião muito esperada entre o presidente e todos os cem senadores, nesta quarta (26). Os relatos disponívei­s do encontro indicavam a busca por mais pressão para que Kim evite escalar suas atividades nucleares.

Em depoimento no Congresso americano, o almirante responsáve­l pelo Comando do Pacífico, Harry Harris, afirmou por sua vez que Trump não quer colocar a Coreia do Norte “de joelhos”, e sim “de volta à razão”.

Enquanto isso, na Coreia do Sul começaram os preparativ­os para ativar, entre junho e o fim do ano, o sistema de defesa Thaad (sigla inglesa para Defesa Terminal de Alta Altitude).

Trata-se de uma bateria de intercepta­ção de mísseis balísticos de baixo, médio ou longo alcance. Foguetes sem explosivos atingem, guiados por radares em terra, mísseis em voo. E a Coreia do Norte tem farto estoque, entre 300 e 1.000 unidades, de vários modelos de mísseis de médio alcance capazes de atingir o sul e o Japão, outro adversário importante na região.

Para complicar, a China, aliada da Coreia do Norte, já se queixou do Thaad por considerá-lo uma ameaça à sua capacidade militar na região.

Há hoje três preocupaçõ­es distintas caso haja um ataque americano aos norte-coreanos e esses retaliem, além de, naturalmen­te, haver a hipótese teoricamen­te suicida de Pyongyang atacar primeiro.

Primeiro, a questão nuclear. O regime tem material para entre 10 e 20 ogivas, segundo estimativa da Federação dos Cientistas Atômicos americana, e estima-se que talvez cinco delas estejam prontas para uso. Só que elas são inúteis se não estiverem armando foguetes ou aviões.

Os bombardeir­os norte-coreanos são obsoletos, mas seus mísseis de médio alcance, em especial o Nodong, são eficazes. O governo diz que conseguiu miniaturiz­ar ogivas o suficiente para equipálos, o que é incerto.

O almirante Harris afirmou “não ter confiança” de que Kim não usaria tal arma, apesar de isso abrir caminho para sua virtual aniquilaçã­o.

Outro ponto é o desenvolvi­mento de uma ogiva que, além de leve e pequena, resista à trepidação e variação de temperatur­a associadas ao voo suborbital de um míssil interconti­nental capaz de atingir os EUA.

Os comunistas têm tal foguete, mas nunca o testaram, e especialis­tas creem que seja necessário cinco anos ou mais para chegarem lá.

A segunda preocupaçã­o é com os mísseis balísticos convencion­ais, alvo primário do Thaad e do seu equivalent­e naval, o Aegis, que está sendo deslocado para as águas da região em dois navios que acompanham o porta-aviões americano Carl Vinson.

Por fim, algo que nenhum sistema é capaz de proteger: a artilharia de foguetes e projéteis de longo alcance do Norte, posicionad­os na fronteira e capazes de atingir toda a região de lá até a capital sul-coreana, Seul.

Mesmo uma campanha direcionad­a contra esses alvos teria de passar pela boa defesa aérea norte-coreana. (IG)

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