Acusação de assédio atinge revista ‘Playboy’
Denúncia contra dois sócios da editora é encabeçada por 9 modelos; ambos negam assédio, e um deles foi afastado
Jovens falam em troca de fotos nuas e sexo por fama; sócio diz que imagens são usadas em seleção para trabalho
Nove modelos acusam de assédio dois sócios da editora que publica a revista “Playboy”. Um deles foi afastado pela empresa nesta segunda (24), e ambos negam assédio.
Segundo a denúncia, André Luís Sanseverino, 49, prometia oportunidades de trabalho, fama e sucesso em troca de fotos nuas e sexo. Marcos Aurélio de Abreu Rodrigues e Silva, 67, é acusado de “passar a mão” em mulheres em uma festa da revista. O caso foi revelado pelo programa “Fantástico”, da TV Globo.
Tudo teria começado nesse evento, em agosto de 2016, que comemorava os 41 anos da marca no Brasil. Treze meninas foram contratadas por meio de uma produtora para, vestidas de coelhinhas, receberem os convidados.
Durante a festa, alguns dos presentes contaram à Folha ter percebido “abraços não tão normais”. Um dos citados foi Marcos Aurélio Silva.
O produtor da festa, Gastão Franco, diz ter visto algumas dessas abordagens. “Tivemos problemas com o Marcos, pediram para a gente ter cuidado porque ele tinha esse perfil mulherengo”, diz. “Ele inclusive pegou o braço da minha mulher, entregou um cartão e falou que ela era linda.”
Marcos Aurélio Silva nega. “A festa era pública, eu estava com vários clientes, minha equipe, a diretoria. É uma situação que não se sustenta”, diz. “Se fizer uma busca na internet, vai ver que sempre estou de braços cruzados, não toquei em nenhuma mulher.”
Depois do evento, outro tipo de assédio teria começado, de acordo com a denúncia. André Sanseverino teria dito ao produtor, Franco, quais foram as meninas que ele gostaria que continuassem na revista “Playboy”. Elas foram instruídas a mandar uma mensagem a ele caso tivessem interesse.
“Primeiro ele começou a fazer perguntas rotineiras, como minhas medidas, se eu posaria nua etc. A partir daí as mensagens foram para um outro lado”, diz Nadya Porci, 23, uma das modelos.
Segundo as jovens, Sanseverino passou a enviar fotos de modelos e atrizes famosas e a dizer que ele podia transformá-las, pedindo em seguida fotos nuas e fazendo perguntas íntimas. Elas mostram fotos das mensagens.
“Ele perguntou se eu gostava de sexo e se eu trairia meu namorado pra me dar bem. Disse que queria que eu tivesse mais intimidade com ele do que com meu namorado, mesmo eu perguntando qual era a relação daquilo com o meu trabalho. Isso durou uns dois ou três dias”, conta Samantha Ofsiany, 26.
“Ele dizia que a gente tinha que criar um vínculo com ele, uma relação de confiança. Dizia: fica nua bem sexy e me manda uma foto. Em certo momento ele entendeu que era ‘não’ e disse: então é uma pena a gente não trabalhar juntos”, declara Nadya Porci.
As modelos afirmam que resolveram processá-lo quando descobriram que as conversas ocorriam com todas elas.
O advogado que as representa, Marcello Lombardi, diz que recebeu “mais de 50 contatos de outras modelos assediadas por Sanseverino e outros” depois que o caso apareceu na TV, no domingo (23).
Sanseverino argumenta que usa as mensagens e pede fotos para selecionar as mulheres e evitar prostitutas na revista. “As pessoas não têm noção da quantidade de propostas de garotas de programa que recebo por dia”, diz.
“A ‘Playboy’ fica numa sala e tem cinco funcionários, não existe uma grande estrutura para fazer essa seleção.”
Ele diz ainda que os fatos foram distorcidos e as mensagens foram divulgadas apenas parcialmente, mas que não tem a íntegra porque apaga tudo que recebe para proteger as meninas.
Entre os motivos para pedir fotos nuas, Sanseverino cita o custo —para que as meninas não tenham que ir a São Paulo— e o Photoshop, programa que edita imagens. “Temos vídeos para assinantes, eventos. Precisam ser mulheres realmente bonitas.” Ele diz que é um “caso de extorsão, não de Justiça”.
As modelos pedem, no processo, indenização por danos morais e pelo que supostamente deixaram de ganhar por não aceitarem as propostas do empresário.