CRÍTICA Elon é perseguido pelos meandros da loucura
Personagem-título de longa nacional é uma lástima andante, conforme vemos por sua relação com tudo ao redor
FOLHA
Não há nada muito animador em “Elon Não Acredita na Morte”, primeiro longa do diretor mineiro Ricardo Alves Jr. (dos elogiados curtas “Permanências” e “Tremor”).
Elon (Rômulo Braga) procura sua esposa Madalena (Clara Choveaux). Ela não está no trabalho, onde ele sempre a encontra. Não está em lugar algum. Elon entra em parafuso. Mas não desiste, pois não acredita que ela tenha morrido.
Como os curtas do diretor, celebrados sabe-se lá por que, este longa chama a atenção para uma espécie de novo academicismo, muito presente em festivais mundo afora e muito perseguido por jovens diretores brasileiros: o tal do cinema de fluxo.
Ou seja, não há muita preocupação com o que a câmera enquadra, mas é importante que ela persiga o protagonista pelos meandros de sua própria loucura, a ponto de perdermos a relação entre ele e o mundo palpável.
São apenas 75 minutos, mas o tom escuro que predomina nas cenas e a monotonia de todo o relato, em grande parte causada por um desempenho mumificado de Rômulo Braga, fazem parecer que dura bem mais. ABISMO O personagem é uma lástima andante, conforme vemos por sua relação com tudo ao redor. Mas o ator parece não dar conta dessa antipatia, talvez por culpa da direção, talvez por uma inadequação entre ele e o personagem.
A construção em abismo na cena em que ele é demitido é um raro momento em que Alves Jr. abandona o fluxo para pensar numa composição do quadro.
Mas o quadro não ajuda. Retoma a ambientação fria e batida da empresa que oprime seus empregados: aspecto decadentista, cor desbotada, impressão geral de um lugar de outro tempo.
“Elon Não Acredita na Morte”, infelizmente, é um filmesúmula deste tempo. DIREÇÃO Ricardo Alves Jr. ELENCO Rômulo Braga, Clara Choveaux, Lourenço Mutarelli PRODUÇÃO Brasil, 2016, 18 anos QUANDO estreia nesta quinta (27) AVALIAÇÃO regular