VIDA ANTES E DEPOIS DO TRATAMENTO
Apoio emocional e descoberta de uma nova atividade ajudam a enfrentar os momentos mais difíceis da doença, afirmam ex-pacientes
O tratamento contra o câncer no país mudou e está cada vez mais interdisciplinar. Hoje, as terapias incluem acompanhamento da qualidade de vida do paciente, orientação nutricional e, principalmente, psicológica.
E os cuidados devem continuar mesmo após a cura.
Pacientes com bom acompanhamento psicológico se dedicam mais ao tratamento e têm melhores condições de enfrentar as fases mais difíceis, diz o urologista Carlos Alberto Sacomani, do A.C.Camargo Cancer Center, um dos participantes do Fórum A Jornada do Paciente com Câncer, promovido pela Folha e patrocinado pelo laboratório Bristol-Myers Squibb.
A apresentadora Sabrina Parlatore concorda. “Se eu não tivesse o apoio emocional das pessoas ao meu lado eu não teria aguentado”, diz ela, diagnosticada com câncer de mama em 2015.
Durante o tratamento, Parlatore enfrentou sessões de quimioterapia e radioterapia. “Não foi brincadeira, mas a onda positiva de energia que recebi me ajudou muito.”
Sacomani afirma que não é mais suficiente falar ao paciente apenas em cura. “O médico tem que prestar atenção na qualidade de vida do paciente, considerar o antes e depois do tratamento”, diz.
Para Ludmila Koch, oncologista do Hospital Albert Einstein, o retorno do paciente a vida pessoal e profissional deve ser considerado parte do processo. “Às vezes, após o tratamento, o paciente se sente abandonado. Ele é curado do tumor, mas tem um adoecimento psicossocial.”
Doenças como transtorno de ansiedade e depressão afetam ex-pacientes que não conseguem lidar com suas sequelas ou com a possibilidade da volta da doença, diz Paula Kioroglo, psicóloga oncológica do Sírio Libanês.
Para ela, é essencial adaptar as expectativas para o novo estilo de vida depois do tratamento. “Alguns têm sequelas físicas, como a perda das mamas ou da potência sexual, outras têm psicológicas”, afirma Kioroglo. REALINHAR A VIDA Descobrir uma atividade que dá prazer também ajuda a superar a doença. Foi o caso do engenheiro civil Paulo Henrique Velloso, 35, um dos convidados do fórum.
Ele foi diagnosticado com seminoma (tipo de câncer testicular) aos 17 anos, enquanto estudava para o vestibular. Após receber alta, descobriu um segundo câncer, aos 20: linfoma Hodgkin. E, três anos depois, mais um: dessa vez um linfoma não-Hodgkin.
O mais importante, diz Veloso, é encontrar uma atividade que propicie bem-estar. “No meu caso foi o esporte.” Ele completou duas vezes a prova Ironman, onde cada participante tem que nadar 3,8 km, percorrer 180 km de bicicleta e correr mais 42 km.
“Essas três lutas serviram para realinhar alguns valores da minha vida, avaliar o que realmente importa. O que antes chamava ‘problema’, hoje chamo de imprevisto.”
Sabrina Parlatore também diz que, apesar de todo o sofrimento, a doença a impactou positivamente. “Depois dessa experiência, eu não quero viver de um jeito ‘mais ou menos’”, afirma.