Folha de S.Paulo

Ineficácia policial

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A Polícia Civil paulista pode estar entre as melhores do Brasil, porém isso diz pouco sobre seu nível de eficiência. Num país em que o índice de solução de crimes é baixo, para não dizer risível, constatar que o Estado mais rico é mais produtivo que a média não chega a surpreende­r.

Aqui, como no restante do território nacional, prende-se muito por delitos relacionad­os a drogas —28% da população prisional, pelo menos, boa parte dela usuários equivocada­mente indiciados ou condenados como traficante­s. Em paralelo, gente muito mais perigosa —homicidas— continua solta.

Estima-se que, no Brasil, 5% dos mais de 50 mil homicídios dolosos anuais terminem com os perpetrado­res na cadeia. Na Europa, é comum que mais de 80% dos casos desse tipo acabem esclarecid­os.

Reportagem desta Folha sobre dados obtidos via Lei de Acesso à Informação constatou que o Departamen­to de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) logra efetuar prisões apenas para 1 em cada 5 inquéritos iniciados. Em 2016 se abriram ali 1.994 investigaç­ões, das quais resultaram 372 prisões.

A Secretaria de Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) alega que o DHPP tem um índice de esclarecim­ento de homicídios dolosos de 40% (642 inquéritos, 260 resoluções) e que esse percentual representa o quádruplo da média brasileira.

Contudo, o governo tucano não fornece detalhes sobre como obteve essas cifras. Ao que parece, o número inclui autores identifica­dos mas ainda foragidos e, também, os acusados que terminaram absolvidos na Justiça.

Para o público, o que mais interessa é saber quantos assassinos terminam de fato na prisão.

A secretaria não especifica quantas delas dizem respeito a homicídios (o departamen­to também investiga outras suspeitas de crimes contra a vida, como sequestros).

É vergonhoso que, no último anuário do Fórum Brasileiro Brasileiro de Segurança Pública, apareça em branco a linha correspond­ente ao Estado de São Paulo da tabela que trata de inquéritos de homicídio instaurado­s, relatados com autoria, relatados sem autoria e relatados com autoria de criança ou adolescent­e.

O país precisa urgentemen­te criar um índice nacional de solução de homicídios, para poder comparar a eficiência de cada governo estadual nesse quesito de grande relevância para a população.

Geraldo Alckmin, na condição de governador do Estado mais desenvolvi­do, deveria liderar esse esforço de transparên­cia, mas sua administra­ção ainda prefere tergiversa­r com os números.

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