Folha de S.Paulo

Governo busca recursos extras em depósitos judiciais

Dinheiro reservado para pagamento de dívidas poderá ser usado para liberar verbas bloqueadas em março

- JÚLIO WIZIACK MARIANA CARNEIRO DANIEL CARVALHO

A equipe econômica trabalha com a possibilid­ade de liberar gastos dos ministério­s que, em março, foram represados em R$ 42,1 bilhões. Para isso, tem quase duas semanas para buscar receitas extraordin­árias que, até o momento, somam R$ 9,5 bilhões.

A maior parte desses recursos (R$ 4,5 bilhões) virá de precatório­s vencidos que foram liberados por meio de autorizaçã­o judicial. O governo esperava contar com R$ 8,6 bilhões em precatório­s, mas ainda não conseguiu liberálos completame­nte.

Outros R$ 3,5 bilhões devem sair da venda de lotes do pré-sal que serão leiloados ainda no primeiro semestre. O valor pode ser maior porque houve uma decisão do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) permitindo que operadores que hoje já exploram áreas contíguas a esses blocos possam “juntá-los”.

Como a União só terá de pagar R$ 1,5 bilhão à Cemig (empresa de energia de Minas) no ano que vem, o dinheiro ficará à disposição do governo. O valor se refere a uma indenizaçã­o à companhia mineira de energia pela retomada das usinas pelo governo.

A situação orçamentár­ia atual é complicada porque a arrecadaçã­o só reagirá quando as empresas pararem de compensar créditos tributário­s gerados por prejuízos acumulados na recessão.

Em parte, é também por isso que o governo precisou elevar a meta de deficit de 2018 de R$ 79 bilhões para R$ 129 bilhões. Neste ano, foi preciso fazer o contingenc­iamento de despesas previstas para o cumpriment­o da meta de deficit de R$ 139 bilhões. PRECATÓRIO­S Em março, a equipe econômica tentou contar com os R$ 8,6 bilhões em precatório­s para fazer um bloqueio menor de gastos. No entanto, teve de seguir orientação da ministra Cármen Lúcia, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), que, naquele momento, não liberou a contabiliz­ação desses recursos.

O impasse levou o governo a preparar um projeto de lei, enviado ao Congresso nesta semana para dar mais segurança jurídica para o uso desses recursos pela União.

Hoje, o governo acessa esse dinheiro graças a uma resolução do Conselho de Justiça Federal (CJF). Por ela, se um precatório vence e o dono do dinheiro não aparece em até dois anos para receber, o governo pode reaver a verba, que é produto de uma derrota do setor público.

O beneficiár­io pode aparecer depois do prazo, mas, neste caso, só poderá sacar o dinheiro no ano seguinte, com um prazo máximo de cinco anos. Depois disso, o precatório é cancelado.

Desde março, a AGU (Advocacia-Geral da União) vinha acionando a Justiça para saber quanto, afinal, poderia ser usado pelo governo.

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