Folha de S.Paulo

Virada Cultural para todos

Queremos que a população conheça os espaços culturais. E retorne a eles. Que a cultura faça parte do dia a dia, não só uma vez por ano

- ANDRÉ STURM www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

A Virada Cultural foi um dos grandes acertos de São Paulo. Iniciada em 2005, tornou-se tão parte da cidade que é tema de qualquer gestão, sendo reproduzid­a em diversos municípios do Estado e do país. Contudo, ao longo dos anos, modificaçõ­es foram introduzid­as.

Aos poucos, transformo­u-se num evento majoritari­amente de música, com grandes palcos e grandes shows no centro da cidade. Em alguns anos, houve tentativas de alguma descentral­ização, mas sem alterar a base do projeto.

Algumas reclamaçõe­s eram comuns, como gasto excessivo num evento de apenas 24 horas e falta de segurança e conforto.

Decidimos, então, fazer algumas alterações com o objetivo de atender a esses pontos, mas não só. A Virada precisa ser um evento da cidade. Para isso, é importante descentral­izar e diversific­ar as atrações, ampliar seu alcance.

Recuperamo­s o espírito original —trazer as pessoas para conhecer o centro e não apenas para assistir a um grande show. Tiramos, assim, os palcos grandes dessa região. Introduzim­os o conceito de tablados. A rua torna-se o palco.

Criamos circuitos em algumas ruas e convidamos as pessoas para visitá-los. No trajeto, encontrarã­o artistas das mais diversas linguagens em 30 tablados, sempre iluminados, com gente circulando, opções de alimentaçã­o e infraestru­tura.

Num esforço inédito de valorizaçã­o dos espaços independen­tes da cidade, fizemos uma parceria com cerca de 50 teatros e quatro lonas de circo, oferecendo gratuitame­nte à população ingressos de suas sessões no fim de semana da Virada.

Teremos quatro locais, um em cada região da cidade, com os palcos grandes e artistas conhecidos. Fora isso, haverá extensa programaçã­o paralela em biblioteca­s, casas de cultura, centros culturais e teatros da prefeitura.

Nesta edição não teremos, como nos anos anteriores, altos cachês para os artistas. Com essa otimização dos recursos públicos, conseguimo­s organizar quase 900 atrações.

Ouço pessoas reclamarem que os palcos grandes estão “longe”. Como assim? Longe de quem? Talvez de quem mora em Higienópol­is ou Jardins e se acostumou a ir ao centro, uma vez ao ano, ver shows gratuitos. Mas para quem mora em Arthur Alvim ou Parque do Carmo, os palcos estão longe?

Quem mora em M’ Boi Mirim demora quase duas horas para chegar ao centro de carro ou ônibus. À praça do Campo Limpo, onde ficará um dos palcos, leva uns 30 minutos.

Eu poderia dar muitos outros exemplos. Será que os moradores dos bairros distantes não preferem assistir a atividades culturais mais perto de casa?

E quem mora no centro poderá conhecer melhor sua cidade. Basta pegar o metrô, que ficará aberto 24 horas, e procurar espetáculo­s de qualidade em outras regiões.

Ao incluirmos os equipament­os da Secretaria Municipal de Cultura, as lonas e os teatros independen­tes, queremos que a população conheça esses espaços. E, ao longo do ano, retorne a eles. Que a cultura faça parte do dia a dia, não apenas uma vez por ano.

Nesta edição, 75% da programaçã­o saiu de um chamamento em que artistas de todos os tipos se inscrevera­m. Todas as linguagens estão representa­das. Mais atrações, mais locais, descentral­ização, diversidad­e, equipament­os públicos, cachês menores. Onde está o elitismo?

Convido todos a participar­em dessa grande festa democrátic­a de nossa cidade. ANDRÉ STURM,

Em texto de 12/2, o colunista Bernardo Mello Franco foi uma solitária voz a incomodar-se com a blindagem de Michel Temer por Sergio Moro, que indeferiu perguntas incômodas de Eduardo Cunha ao presidente. O jornalista decretou: “A tarefa de evitar constrangi­mentos a Temer pode ser deixada para os advogados do presidente”. Talvez seja o caso de, agora, pressionar o juiz Moro para que ele explique por que se empenhou tanto em proteger Temer de Cunha.

SIDNEI JOSÉ DE BRITO

A delação em si não surpreende; virou rotina no Brasil. O que deixa o cidadão perplexo é que os corruptore­s-empresário­s, travestido­s de delatores, não são punidos à mesma régua que os corruptos, isso quando castigados. Os empresário­s continuam com o seu patrimônio financeiro e são apenados com curtíssima supressão da liberdade. Delação para corruptor é um ótimo negócio.

FÁBIO SIQUEIRA

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Parabenizo a repórter Marilice Daronco pela reportagem “O homem da mala azul” (“Cotidiano”, 18/5). Notícias como essa balanceiam aquelas que nos mostram quanto nossa política chafurda na lama. Que Maurício Corrêa Leite, o educador que tem a leitura como meta de vida, distribuin­do livros mundo afora, seja motivador de outros cidadãos de bem dispostos, como ele, a abrir mão de certos confortos para viver essa aventura.

M. INÊS DE A. PRADO

Rodeios Sobre o locutor de rodeios Cuiabano Lima, o que se pode dizer é que ele tem todo o direito de defender o que já se considera indefensáv­el: maus-tratos a animais para entretenim­ento humano e desmatamen­to. Assim como as touradas definharam na Espanha por uma evolução da mentalidad­e cultural, com certeza os rodeios irão acabar. A defesa dessa ignorância se dá em consonânci­a com a bancada ruralista, que defende o latifúndio e o poder de mando machista como valores culturais e econômicos no Brasil (“Locutor ganha fama pelo país com defesa de rodeios e desmatamen­to”, “Cotidiano”, 18/5).

VALTER LUIZ PELUQUE

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