Temer descarta saída; áudio sobre Cunha não é conclusivo
Em outro trecho de gravação, Joesley diz ter influência sobre 2 juízes e ouve do presidente: ‘ótimo, ótimo’; STF autoriza investigação de peemedebista
Num dia tenso, em que os mercados desabaram e a base aliada do governo esteve perto de ruir, o presidente Michel Temer (PMDB) prometeu em pronunciamento à nação resistir no cargo: “Não renunciarei. Repito: não renunciarei”, declarou.
Seu mandato ficou ameaçado após a delação premiada do empresário Joesley Batista, sócio do grupo J&F, dono da marca JBS.
Joesley gravou escondido uma conversa com Temer no Palácio do Jaburu, em março. Em um áudio de 38 minutos liberado pelo Supremo Tribunal Federal, o empresário diz ao presidente, entre outros pontos, que obtinha informações de um procurador e de dois juízes sobre processo contra sua empresa. “Ótimo, ótimo”, responde o peemedebista.
Na conversa, o empresário também relata iniciativas que vem tomando para ajudar o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao que o presidente responde: “Tem que manter isso, viu?”. O diálogo divulgado não é conclusivo, no entanto, sobre a acusação de que o presidente teria dado anuência a pagamentos efetuados por Joesley para silenciar Cunha e evitar que fizesse acordo de delação premiada.
Ao longo do dia, a possibilidade de Temer deixar o cargo gerou movimentações na base do presidente. Tucanos e o PSB ameaçaram debandar, mas o dia terminou com apenas uma baixa no governo: a de Roberto Freire, do PPS, que pediu demissão do Ministério da Cultura.
Em razão das acusações, o relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, autorizou a abertura de um inquérito contra o presidente.
As revelações sobre a delação do empresário também atingiram em cheio o PSDB, em especial o senador Aécio Neves (MG), acusado de ter recebido R$ 2 milhões de Joesley. Pela manhã, Aécio foi alvo de uma operação da Polícia Federal, com ações de busca e apreensão em endereços seus no Rio, Brasília e Belo Horizonte.
Sua prisão chegou a ser pedida pela Procuradoria Geral da República, mas foi negada por Fachin. Por ordem do STF, no entanto, o mandato de Aécio foi suspenso, e sua irmã Andrea Neves foi presa.
A crise política gerou forte instabilidade no mercado financeiro. A Bolsa de São Paulo teve seu quinto pior pregão do século e chegou acionar pela primeira vez desde 2008 o mecanismo de “circuit breaker”, que interrompe as negociações por meia hora se o índice Ibovespa cair mais de 10%.
Houve manifestações pedindo a saída do presidente em diversas cidades, com confronto no Rio.