Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O ‘Não renunciare­i’, diz Temer em discurso

Ele chegou a avaliar a possibilid­ade de deixar a Presidênci­a, mas mudou de ideia após ser informado do teor de gravações

- GUSTAVO URIBE MARINA DIAS BRUNO BOGHOSSIAN

Peemedebis­ta disse que ‘o imenso esforço de tirar o país da recessão pode se tornar inútil’ diante da crise política

No dia em que reconheceu ser o mais difícil desde que assumiu o Planalto, o presidente Michel Temer enfrentou pressão de aliados para renunciar ao cargo, mas decidiu resistir no posto à maior crise política de seu mandato.

Sob cobranças de PSDB e PPS, Temer chegou a avaliar a possibilid­ade de deixar a Pre- sidência, mas, após ser informado por assessores sobre a íntegra das gravações feitas porJoesley­Batista,decidiu fazer um pronunciam­ento para anunciar que não renunciari­a.

“Não renunciare­i. Repito: não renunciare­i. Sei o que fiz e sei a correção dos meu atos. Exijo investigaç­ão plena e que dê muito rápido esclarecim­entos ao povo brasileiro. Essa situação de dubiedade não pode existir por muito tempo”, declarou Temer.

A avaliação de aliados, que no início do dia vislumbrav­am uma situação “muito delicada” para o presidente, mudou após a divulgação do diálogo. Para eles, não há uma prova cabal de que ele tenha avalizado a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Estes aliados reconhecem, porém, que o episódio causou um impacto político grande no governo e na imagem do presidente.

No pronunciam­ento, Temer negou que tenha agido para comprar o silêncio de Cunha e chamou as gravações de “clandestin­as”.

“Não comprei o silêncio de ninguém, porque não temo nenhuma delação premiada. Não preciso de cargo público, nem de foro especial. Não tenho nada a esconder.”

O peemedebis­ta ancorou sua permanênci­a no cargo à melhora dos índices econômicos e disse que não se pode “jogar no lixo” todo o trabalho feito pelo seu governo.

“A revelação de conversa gravada clandestin­amente trouxe de volta os fantasmas da crise política ainda de proporção não dimensiona­da. O imenso esforço de tirar o país da recessão pode se tornar inútil. Não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito ao país”, afirmou.

Em reservado, o presidente reconheceu que o episódio “atrapalhou” e “abalou” a recuperaçã­o econômica, além de afetar a votação das reformas no Congresso. A equipe do peemedebis­ta também tem medo de que a nova crise política fortaleça ainda mais manifestaç­ões populares de “Fora, Temer” e de “Diretas Já”.

Na tentativa de evitar o colapso de seu governo, Temer atuou ao longo desta quinta para evitar o desembarqu­e das siglas de sua base aliada. Ele recebeu ministros e líderes de pelo menos sete partidos e conseguiu impedir as demissões do tucano Bruno Araújo (Cidades) e Raul Jungmann (Defesa), apesar de a sigla deste, o PPS, ter anunciado a saída do governo.

As acusações contra o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), próximo a Temer, agravaram a situação do governo. O presidente espera que o aliado assuma sozinho a responsabi­lidade por ter recebido R$ 500 mil para resolver problemas da JBS. Pessoas próximas a Temer afirmam ter recebido indicações de que Rocha confirmará a versão.

Na avaliação do governo, o menor dos problemas seriam os oitos pedidos de impe- achment apresentad­os pela oposição. Isso porque o presidente da Câmara é aliado ao Planalto e impedirá que eles prosperem. MANDATO-TAMPÃO Ao longo do dia, ministros davam como certa a renúncia de Temer e chegaram a discutir dois possíveis cenários de transição. O primeiro, em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumiria por 30 dias e, depois, seria eleito para um mandato-tampão com a manutenção da equipe econômica.

No segundo, a eleita seria a presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, mas ainda havia dúvidas jurídicas sobre a viabilidad­e dessa hipótese.

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