Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Para analistas, JBS tem fôlego financeiro para atravessar crise

Dívida é elevada, mas delação não deve ter impacto sobre as vendas da gigante de alimentos

- RENATA AGOSTINI RAQUEL LANDIM

Maior parte da receita da empresa vem do exterior, onde o efeito do escândalo político tende a ser reduzido

Analistas e executivos de bancos com conhecimen­to dos números da JBS veem como baixo o risco de a companhia deixar de honrar pagamentos a seus credores no curto prazo. A empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista tinha, ao fim de março, R$ 17,9 bilhões em dívidas a vencer em 12 meses e 60% desse montante em caixa.

Essa relação entre o que a empresa deve na praça no curto prazo e o dinheiro que tem disponível já foi mais folgada. Ao final de 2011, a JBS tinha 100% de sua dívida imediata coberta pelo caixa.

Apesar disso, a avaliação do mercado é que os números apresentad­os pela empresa dão a ela relativo conforto para enfrentar a crise de imagem em seus negócios. Tal percepção deriva do perfil da dívida: boa parte está garantida pela operação, uma modalidade de crédito conhecida como “trading finance”.

Analistas projetam ainda que, ao contrário do que ocorreu na Carne Fraca, a delação dos donos da companhia trará prejuízos limitados às vendas de produtos da JBS. Na operação de março, a PF lançou dúvidas sobre condições sanitárias das fábricas e a qualidade da mercadoria, o que assustou consumidor­es.

Outro fator que deve atenuar o impacto da delação nos resultados da empresa é o fato de o escândalo ter menos apelo para o público estrangeir­o, de onde vem a maior parte das receitas da JBS.

Conhecida no Brasil pelas marcas Friboi e Seara, a empresa expandiu-se de forma agressiva no exterior com apoio do BNDES e hoje é mais americana do que brasileira.

“O consumidor dos EUA não sabe quem são os irmãos Batista e não deixará de comprar os produtos da empresa por causa de um escândalo no Brasil”, diz Johnny da Silva, analista da Fitch Ratings.

A JBS conta com esse descolamen­to entre a imagem do conglomera­do e de suas marcas no exterior para blindar a operação e evitar queda nas receitas. Nos EUA é dona, por exemplo, da Pilgrim’s Pride, da Swift e agora da Plumrose.

Manter o faturament­o em alta é especialme­nte importante depois de a oferta de ações planejada pela JBS em Nova York ter sido adiada. Os recursos levantados ajudariam a baixar o endividame­nto.

Nos últimos anos, a JBS tem conseguido manter no longo prazo o vencimento de cerca de 70% de sua dívida —no total, deve hoje R$ 58,5 bilhões. Em fevereiro deste ano, refinancio­u empréstimo­s de R$ 9 bilhões, aumentando o prazo de pagamento.

Uma queda nas vendas —e consequent­e redução na geração de caixa— poderia deixar bancos receosos de liberar dinheiro novo ou renegociar empréstimo­s. Ao menos por ora, não há sinais de que isso ocorrerá.

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