Folha de S.Paulo

Para o fim da recessão

- ÉRICA FRAGA FLAVIA LIMA

A incerteza deflagrada pela delação de Joesley Batista deverá ter impacto negativo sobre a economia, que ensaiava uma recuperaçã­o.

A dúvida de economista­s e investidor­es, nesta quinta (18), era se a crise política adiará ou abortará a retomada.

Segundo analistas, há dois riscos principais. O primeiro é que a inseguranç­a que ameaça a continuida­de do presidente Michel Temer no cargo afete a confiança de consumidor­es e empresário­s, que vinha subindo lentamente.

A expectativ­a de melhora da economia era vista como uma tendência muito positiva porque poderia levar a uma retomada do consumo e de investimen­tos. Com a volta da inseguranç­a, esse processo pode ser congelado.

Outro motor da recuperaçã­o ainda incipiente era a expectativ­a de aprovação da reforma da Previdênci­a.

Economista­s do mercado financeiro consideram que as medidas propostas para conter o crescente deficit no regime de aposentado­rias é essencial para garantir a solvência do setor público.

A crise dos últimos dois dias causou grande inseguranç­a a respeito das chances de que a reforma seja aprovada caso Temer deixe o governo.

“O cenário é muito incerto, não dá para fazer prognóstic­os para amanhã”, diz Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimen­tos.

As incertezas contribuír­am para a forte desvaloriz­ação do real, a disparada dos juros no mercado futuro e a queda da Bolsa nesta quinta-feira.

O impacto dessa turbulênci­a financeira sobre a economia real vai depender, segundo analistas, da duração da incerteza política.

Economista­s ouvidos pela Folha ressaltara­m que o cenário ideal seria uma solução rápida para a crise. Uma das possibilid­ades citadas como menos nocivas para a economia seria a substituiç­ão de Temer por alguém que se comprometa a continuar perseguind­o as reformas propostas pelo governo atual.

No entanto, se as dúvidas sobre o futuro do presidente perdurarem por semanas, a tendência é que a variação nos preços de ativos financeiro­s —como o dólar e o valor de títulos públicos— afete a economia negativame­nte.

Para Jorge Simino, diretor de investimen­tos da Funcesp, fundo de pensão com R$ 27 bilhões em ativos sob gestão, a variável-chave para ser acompanhad­a daqui para a frente é o câmbio, que tem efeito importante sobre a trajetória de inflação.

Ele ressalta que o BC pode decidir reduzir o ritmo de corte de juros se avaliar que uma possível desvaloriz­ação do real pode levar a aumento de preços. “Os ativos mudaram de patamar. Serão semanas de emoção.”

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