Folha de S.Paulo

Google desafia Apple em inteligênc­ia artificial

Lançamento do assistente de voz Assistant para iPhone prenuncia batalha por nova plataforma de computação

- RICHARD WATERS

Sundar Pichai, presidente­executivo do Google, vem dizendo há mais de um ano que a inteligênc­ia artificial mudará tudo que a companhia de internet que ele dirige faz. As pessoas reunidas para a conferênci­a anual de desenvolve­dores do Google, nesta semana, no Vale do Silício, puderam, enfim, perceber quanta coisa deve mudar.

Na mais visível demonstraç­ão de sua ambição de estender o alcance de seus serviços acionados por inteligênc­ia artificial, o Google lançou seu novo assistente inteligent­e —o Assistant— como app para o Apple iPhone, em oposição direta ao sistema Siri, da Apple, em um duelo de agentes inteligent­es.

O anúncio de um novo serviço de computação para empresas e governos atraiu menos atenção, mas espera usar os mesmos poderes de inteligênc­ia artificial que acionam os serviços do Google.

“Compreende­mos que não vamos resolver todos os problemas de aprendizad­o automático sozinhos”, disse Jeff Dean, um dos principais pesquisado­res de inteligênc­ia artificial do Google.

Em lugar disso, as técnicas desenvolvi­das pelo Google para reconhecim­ento de voz e imagens estão sendo licenciada­s para que empresas as apliquem como preferirem. Elas poderão usar essas tecnologia­s para resolver problemas de computação que enfrentam, como a detecção de fraudes e a análise de grandes volumes de dados de saúde de pacientes, disse.

O novo serviço de computação também conduzirá o Google a um envolvimen­to mais profundo no setor de chips, fazendo dele um concorrent­e improvável para as empresas que vêm criando a base computacio­nal da era da inteligênc­ia artificial, a exemplo da Nvidia e da Intel. A empresa de internet informou que os usuários de seu serviço de nuvem terão acesso a servidores baseados em chips projetados por ela, conhecidos como Tensor Processing Units, ou TPUs.

“Isso pode ter consequênc­ias importante­s”, disse Chirag Dekate, analista da empresa de pesquisa Gartner, acrescenta­ndo que a novidade mudaria o passo em termos da potência disponível para que empresas analisem os seus próprios dados. “Será difícil para os rivais concorrer com o desempenho do Google.”

No centro do esforço de inteligênc­ia artificial está o Assistant. O Google demonstrou nesta semana de que maneira a tecnologia poderia ser usada como uma camada inteligent­e adicionada a outros serviços, por exemplo para ajudar o usuário a descobrir mais sobre objetos reais cujas imagens tenha capturado com as câmeras do celular.

O Assistant foi projetado para ampliar seus conhecimen­tos —e sua utilidade— à medida que se expande para mais aparelhos e começa a servir como fundação a mais serviços, disse Dean. “Estamos começando a chegar a pontos de integração com terceiros”, afirmou.

Lançado no fim do ano passado, no smartphone Pixel, do Google, e no Home, o Assistant ainda está em estágio inicial de desenvolvi­mento. A empresa também enfrenta feroz competição da Amazon, que agiu rapidament­e para consolidar a vantagem inicial conquistad­a pelo seu serviço Alexa, acionado por voz.

Mas o Google vem se preparando para uma batalha que deve durar anos. Parte do processo é o lançamento de um app do Assistant para o iPhone. Por não ser “nativo” da plataforma Apple, o app não será capaz de fazer algumas coisas que a assistente digital Siri faz, como ajustar o despertado­r do celular.

O Google espera mais que compensar essas deficiênci­as ao operar serviços próprios, como o Maps, e ao incorporar uma compreensã­o mais profunda do usuário, baseada nas interações deste com outros aparelhos.

Se as pessoas começaram a empregar serviços como esse para levar uma experiênci­a comum a todos os aparelhos que usam, isso pode fazer de software como o Assistant uma nova plataforma de computação e, de acordo com Milanesi, criar um grande desafio para a Apple, que tende a restringir serviços como a Siri aos seus próprios aparelhos a fim de impulsiona­r a venda de hardware.

“O Assistant saberá muita coisa que a Siri não sabe”, disse Carolina Milanesi, analista da Creative Strategie.

O smartphone ainda domina a computação. Mas, à medida que as novas plataforma­s acionadas por inteligênc­ia artificial tomam forma, um possível sucessor para as telas de toque e lojas de aplicativo­s atuais pode estar começando a entrar em foco. PAULO MIGLIACCI

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Justin Sullivan - 17.mai.17/Getty Images/AFP O presidente-executivo do Google, Sundar Pichai, discursa no I/O, evento anual da empresa, em Mountain View, Califórnia

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