Folha de S.Paulo

Hoje, antes e depois

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RIO DE JANEIRO - Para um grupo que, apenas quatro anos antes, tinha como aspiração pegar na mão da namoradinh­a (“I Want to Hold Your Hand”), o salto dos Beatles até “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, de 1967, foi mesmo fenomenal. “Sgt. Pepper” faz hoje 50 anos de seu lançamento, com o que, neste momento, ensaístas de toda parte devem estar dividindo o mundo em antes e depois.

Para os Beatles, pelo menos, foi isso mesmo. Permitiu a Paul McCartney ascender ao mercado adulto, como ele queria, sem perder o das adolescent­es. Não que fizesse questão de conservar esse último. Os Beatles já não toleravam a histeria de suas fãs, que os impedia de se ouvir nos shows ao vivo e tornava sem sentido o que estavam fazendo ali —se ninguém queria ouvir, para que tocar?

“Sgt. Pepper” foi o resultado dessa opção. Os Beatles se tornaram uma banda de estúdio —mas de um estúdio que comportass­e todos os gê- neros, estilos e formações. O disco fez mais do que garantir o ingresso dos Beatles na alta cultura. Permitiulh­es escapar logo para a contracult­ura, com o que, para o bem ou para o mal, ditaram o comportame­nto de uma ou duas gerações.

Na avalanche de achados atribuídos a “Sgt. Pepper”, pode-se dispensar alguns menos verdadeiro­s. Não foi o primeiro álbum “conceitual” da história —desde a invenção do LP, em 1948, saíram centenas deles. Nem o primeiro LP simples de capa dupla— os de jazz da gravadora Impulse os antecipara­m em anos. E tampouco o primeiro a trazer as letras das músicas na contracapa —muitos discos dos anos 50 e 60 já tinham feito isto.

Nesse departamen­to, aliás, nenhum superou a ousadia do designer brasileiro Cesar Villela no LP “A Noite do Meu Bem”, de Lucio Alves, na Odeon, em 1960. Na capa, entre as fotos, as letras das músicas do lado A; na contracapa, as do lado B. CLAUDIA COSTIN

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