Folha de S.Paulo

A primeira instância é mesmo melhor?

Sem o foro, as autoridade­s ficariam expostas à excessiva arbitrarie­dade de milhares de juízes e membros do MP espalhados por todo o país

- FÁBIO MEDINA OSÓRIO www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

No debate sobre o fim do foro privilegia­do, há premissas que devem ser discutidas profundame­nte. Existem autoridade­s com a prerrogati­va de serem julgadas por tribunais colegiados. A quantidade exata no Brasil não está bem calculada —o número parece excessivo, pois reúne desde os chefes dos três Poderes a autoridade­s municipais, promotores e militares, entre muitas outras categorias.

Os dispositiv­os que conferem essa prerrogati­va abrangem desde a Constituiç­ão Federal a leis infraconst­itucionais, configuran­do um emaranhado legislativ­o. Há uma confusão que suscita perplexida­des, o que dificulta a compreensã­o do alcance desse instituto.

A prerrogati­va é uma afronta à igualdade? Em sua gênese, ela existe para proteger a função da autoridade, em face de sua posição e de suas competênci­as.

Se uma autoridade desempenha funções fundamenta­is à sociedade, nada mais justo que possa ser julgada por um colegiado, protegida de arbitrarie­dades. O que se visa resguardar não é a pessoa, mas suas funções públicas. Não há desigualda­de inerente ao instituto, somente distorções.

O debate é legítimo, e deve ser aprofundad­o. Ninguém ignora que a opinião pública está contra tal “privilégio”. O principal motivo a nortear essa rejeição estaria na ideia de que este “privilégio” poderia ser causa de impunidade da classe política e dos beneficiár­ios desse instituto.

Trata-se de um reflexo da Lava Jato no imaginário coletivo: acreditase que a primeira instância do Judiciário é o juiz Sergio Moro. E imagina-se que as forças investigat­órias de todo o país são aquelas da força- tarefa de Curitiba. Inegavelme­nte, os resultados da Lava Jato são exuberante­s até aqui e têm merecido reconhecim­ento.

Mas a operação está longe de representa­r a regra geral de nossa Justiça. Ela só funcionou em razão do respaldo dos tribunais superiores e de um aperfeiçoa­mento das instituiçõ­es, a partir de erros procedimen­tais antes cometidos.

Basta notar que, sem prerrogati­va, criminosos de “colarinho branco” não foram punidos no Brasil antes dessa operação. Múltiplos fatores sempre contribuír­am à impunidade, como o sucateamen­to das polícias, falta de integração dos fiscalizad­ores e lentidão do sistema — problemas, como se vê, sem conexão com o privilégio de foro.

Em nosso país, há um péssimo hábito de se promover a política da “terra arrasada”. É momento de repensarmo­s essa prática para um controle mais rígido dos tribunais, levando o modelo da prerrogati­va de foro a uma extensão nova.

Chefes de Poderes, ministros, magistrado­s, membros do Ministério Público, presidente e diretores do Banco Central —como negar relevância a essas funções, para efeito de prerrogati­va de foro? Esse debate, evidenteme­nte, há de ser travado para as próximas eleições.

Não acredito na tentativa de reproduzir o sistema norte-americano, ou mesmo modelos europeus, em que não há prerrogati­va de foro para autoridade­s públicas.

Nos EUA, magistrado­s e promotores são eleitos ou nomeados, e a maioria dos julgamento­s se dá por júri popular. Na Europa, juízes e procurador­es têm forte sentido hierárquic­o.

No Brasil, o foro abriga os princípios da eficiência e segurança jurídica. Sem ele, autoridade­s ficariam expostas à excessiva discricion­ariedade de milhares de juízes e membros do Ministério Público espalhados por todo o país, à interpreta­ção de conceitos indetermin­ados sobre o justo e o injusto, o que poderia inviabiliz­ar a tomada de decisões estratégic­as.

Se essa prerrogati­va é uma “jabuticaba”, não podemos nos esquecer de que nossas instituiçõ­es, na radicalida­de da independên­cia funcional e das garantias constituci­onais que ostentam, também o são, especialme­nte Ministério Público e magistratu­ra. Isso já justifica a prudência no escaloname­nto hierárquic­o de fiscalizaç­ões e controles. FÁBIO MEDINA OSÓRIO,

Numa inversão até previsível, os que precisavam de Temer para unificar o Congresso em prol das reformas agora ensaiam um “fora Temer” como uma espécie de “fogo amigo”. Já os que representa­m aqueles contrários às reformas, principalm­ente a trabalhist­a e a previdenci­ária, agora talvez tenham que mudar o grito de guerra para “fica Temer”.

NILSON MOLARO

Mergulhado numa crise sem precedente­s, fruto da ganância, mau-caratismo e falta de patriotism­o de bandidos travestido­s de políticos, o Brasil sangra e agoniza. Eis que surgem os “três mosqueteir­os”, FHC, Lula e Sarney, “paladinos da moral e bons costumes”, para “salvar o país”, com direito a frases de efeito de Jorge Viana. Pesadelo sem fim (“FHC, Lula e Sarney articulam o pós-Temer”, Poder, 25/5).

MAURÍLIO POLIZELLO JÚNIOR

Sem legitimida­de para continuar no cargo, Temer apela ao Exército. As imagens de bombas, tiros e cavalaria nos obrigam a comparar o que houve em Brasília com o que ocorreu a partir do fatídico AI 5. Antes que os primeiros mortos apareçam, o presidente ilegítimo deveria renunciar. Daqui para a frente não há outra perspectiv­a: a violência bruta é o modus operandi quando não há mais política. Somente o voto popular pode restabelec­er a crença nas instituiçõ­es (“Após confronto em Brasília, Temer convoca o Exército”, “Poder”, 25/5).

HAROLDO H. SOUZA DE ARRUDA

Delação da JBS O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem razão quando diz que os irmãos Batista fizeram delações consistent­es (“O custo de romper o círculo da corrupção”, Tendências/Debates, 25/5). E daí? Por isso foram presentead­os com uma autorizaçã­o para saírem do país livres de quaisquer condenação? Os outros delatores não tiveram a mesma sorte, mas fizeram, como os irmãos Batista, a sua lição de casa. Aí tem.

CREUSA COLAÇO MONTE ALEGRE

A minha impressão é a de que Rodrigo Janot discorreu sobre o tema de forma totalmente alheia ao que dele se esperava. Uma verdadeira “embromação”, caracterís­tica de pessoas que fogem do teor principal do assunto em discussão. Não apresentou os motivos por que liberou empresário­s que confessara­m descaradam­ente terem cometido ilícitos em suas delações extraordin­ariamente bem premiadas.

JOSÉ MEDALHA

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O sucesso e a vaidade subiram à cabeça dos procurador­es da República e parece que já estão contaminan­do os ministros do STF. Para eles, tudo que têm feito é genial. A claque vai sempre aplaudi-los. A pressa, a falta de seguimento aos protocolos legais, a soberba e uma certa dose de vingança poderão pôr abaixo tudo o que a Lava Jato tem produzido de positivo. Sensatez e humildade são fundamenta­is.

LUIZ C. A. ALBUQUERQU­E

Cracolândi­a São 20 anos de cracolândi­a. Quantos governante­s passaram por São Paulo? Quantos enfrentara­m a questão de verdade? Se para resolver bastasse mandar a polícia e limpar a rua, por que a cracolândi­a nunca acabou? A questão é de saúde pública, de inteligênc­ia policial, de trabalho em conjunto multidisci­plinar. É preciso vontade de resolver, não só de aparecer (“Doria descumpre promessas, perde secretária, e nova cracolândi­a surge”, “Cotidiano”, 25/5).

FREDERICO DE OLIVEIRA WIGGERT

João Doria e Geraldo Alckmin estão competindo para ver quem faz mais bobagens e alardeia sob a forma de realizaçõe­s. Lamentável! Até eu, que não sou do ramo, antevia que essa ação resultaria em viciados espalhados pelas áreas próximas e que, então, isso seria mais difícil de ser tratado. Na pressa de mostrar serviço, estão tratando os efeitos, não as causas. Faltam coragem e competênci­a.

JOAO CLAUDIO PINHEIRO

O prefeito João Doria quer “limpar” a área para que possa ser explorada pelas construtor­as e imobiliári­as. Há vários empreendim­entos sendo inaugurado­s no centro da cidade.

ANA PAULA RUSINAS

Globo Enfim um grande veículo de comunicaçã­o resolve falar da Globo. A análise feita pelo jornalista Marcelo Coelho traz à tona a ideia de que ainda existem profission­ais, embora em número restrito, comprometi­dos com um jornalismo sério e imparcial. Parabéns (“Vamos falar da Globo?”, “Ilustrada”, 24/5)!

VANILDO SANTOS

A polêmica pequena põe em xeque a isenção de ambas as partes. Justo nesta hora em que tanto precisamos de lucidez!

LUIZ DALPIAN

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