Folha de S.Paulo

O tenentismo de destruição

- REINALDO AZEVEDO

O BRASIL se tornou refém do “Tenentismo da Destruição”. O país caminha para o abismo político, legal e institucio­nal. Aparecerá alguém com um lume ao menos, a nos dar uma esperança, ainda que bruxuleant­e? Esse portador de alguma luz contra as trevas, creiam, era Michel Temer. Torço para que chegue ao fim do mandato. Mas não será fácil.

E o futuro? Até agora, o que vejo são pré-candidatos a cronistas das nossas angústias, com suas ligeirezas à direita ou à esquerda. Pergunta rápida, com resposta idem, dois dias depois dos atos terrorista­s protagoniz­ados pelas esquerdas na Esplanada dos Ministério­s: se não se fizer a reforma da Previdênci­a agora, quem terá coragem de levar essa pauta para o palanque?

Salvo engano, foi Luiz Werneck Vianna, da Pontifícia Universida­de Católica (PUC) do Rio, o primeiro cientista político a caracteriz­ar essa era de procurador­es e juízes militantes como um “novo tenentismo”. Em vez do uniforme militar, a toga. O movimento de jovens oficiais de baixa e média patentes, na década de 20, teve importânci­a capital na história do país. Dali saíram tanto o líder comunista Luiz Carlos Prestes como boa parte da elite fardada de 1964. A Revolução de 30 foi o primeiro golpe bem-sucedido da turma.

Também os tenentes, a exemplo dos procurador­es e juízes militantes de hoje em dia, não gostavam de políticos, consideran­do-os meros agentes da corrupção. Também eles queriam refundar a República —tanto é assim que a ascensão de Getúlio Vargas marca o fim da dita “República Velha” e o início da “Nova”. Também eles carregavam uma ânsia moralista autoritári­a. Para registro: três presidente­s do ciclo militar tinham sido tenentes “revolucion­ários”: Castello Branco, Emilio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel.

Os tenentes de uniforme, no entanto, observou Werneck Vianna, tinham ao menos um ideário, uma pauta, como o voto secreto, o fim das fraudes nas eleições, reforma da educação pública etc. Havia até os que defendiam a liberdade de imprensa. Os tenentes de toga nada têm além do combate à corrupção. É evidente que é necessário. A questão é saber quantos crimes serão cometidos sob tal pretexto.

A tramoia contra Temer e o esforço para o STF decretar a prisão preventiva do senador Aécio Neves (PSDB-MG) são o epílogo da primeira etapa dessa destruição que consideram saneadora. Na segunda, prometem mais higienismo político. Afinal, como já sugeriu Deltan Dallagnol, a única reforma que realmente interessa é a do... combate à corrupção.

Fui vítima de uma violência, de um crime, que, por enquanto, segue sem criminosos. Conversas minhas, ao telefone, com Andrea Neves foram pinçadas em meio a milhares de gravações. Nada traziam, obviamente, de compromete­dor. A PGR diz não ter nada com isso. A PF diz não ter nada com isso. A presidente do STF lembrou a agressão a um direito constituci­onal: o sigilo da fonte. Também nada com isso!

Então quem tem? Vai ver o culpado sou eu! O ministro Edson Fachin liberou os grampos sem nem saber o que lá iam. Jogou no lixo o Artigo 9º da Lei 9.296, que manda destruir o material que não interessar à investigaç­ão. Depois de uma reação de indignação como raramente se viu, pôs de novo parte dos grampos sob sigilo.

Os tenentes de toga acham que as leis brasileira­s são garantista­s demais e que, como é mesmo?, o “interesse público” deve estar acima de alguns fundamento­s do Estado de Direito. Tudo, claro!, para combater a corrupção! É por isso que eles protestam com tanta veemência quando Eike Batista obtém habeas corpus no Supremo.

Afinal, esses paladinos da moral têm como exemplo de rigor um outro Batista, o Joesley!

Também os tenentes, a exemplo dos procurador­es e juízes militantes de hoje, não gostavam de políticos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil