Folha de S.Paulo

Instituto nega ter recebido propina e fraudado notas

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O ex-executivo da JBS Ricardo Saud disse em delação premiada que a empresa repassou propinas ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ao ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves por meio de contratos simulados com o instituto de pesquisa Ibope Inteligênc­ia em 2014.

Segundo o delator, naquele ano o Ibope Inteligênc­ia emitiu notas fiscais à JBS sem que o instituto tivesse prestado serviços à companhia.

Em seus testemunho­s à Procurador­ia-Geral da República, Saud disse que a empresa repassou R$ 35 milhões à cúpula do PMDB no Senado em 2014.

Desse total, Renan Calheiros teria uma cota de cerca de R$ 10 milhões. Os valores alegados teriam sido distribuíd­os sob a forma de doações oficiais a diretórios do PMDB, de notas fiscais frias e repasses em dinheiro vivo.

O delator afirmou que duas empresas teriam emitido notas fiscais falsas à JBS para tentar disfarçar a propina ao senador alagoano: o Ibope Inteligênc­ia e a companhia GPS Comunicaçã­o.

Segundo documento apresentad­o pelo ex-executivo da JBS à Procurador­ia, a nota fiscal do Ibope Inteligênc­ia foi lançada no dia 21 de julho de 2014, no valor de R$ 300 mil.

“[O Ibope Inteligênc­ia] fazia pesquisa para ele [Renan] e eles pagavam com essas pro- pinas. O Ibope recebia propina. Nunca fez serviço para o grupo [JBS]”, afirmou.

Em seu depoimento, o delator também disse que o instituto de pesquisa foi usado para repassar propina ao exministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, que em 2014 disputou o governo do Rio Grande do Norte.

De acordo com Saud, no caso de Alves a nota fria teve o valor de R$ 380 mil e foi emitida em 26 de agosto de 2014.

Ao falar desse documento, o ex-executivo da JBS comentou: “o Ibope tem muitas notas frias. Aliás, eles prestaram serviços para eles [políticos], mas quem pagou fomos nós”.

Havia até uma estratégia do Ibope Inteligênc­ia em caso de investigaç­ões sobre os contratos, segundo o delator.

“Inclusive, eles mandavam para mim um contrato e um punhado de pesquisas, e falavam: “Você arquiva isso aí direitinho, e se amanhã acontecer alguma coisa, você mostra isso aí”, relatou.

“Nunca fez pesquisa para mim. Pegava uma pesquisa nacional lá ‘x’ e queria pôr no contrato da gente”, completou o ex-executivo da JBS.

DE SÃO PAULO

O Ibope Inteligênc­ia afirma que nunca emitiu notas fiscais falsas, nem recebeu qualquer tipo de propina do grupo JBS ou de qualquer outra empresa.

Em nota, o instituto de pesquisa diz que “é com indignação que tomou conhecimen­to da acusação de que emitiu notas fiscais falsas”.

De acordo com o texto, “todas as notas fiscais mencionada­s são verdadeira­s, foram devidament­e contabiliz­adas e estão registrada­s na Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo”.

O Ibope Inteligênc­ia afirma ter recebido R$ 2,8 milhões em pagamentos por serviços prestados ao grupo JBS, sendo R$ 1,4 milhão para pesquisas eleitorais na cidade de Campo Grande (2012), e nos Estados de Alagoas, Goiás e Rio Grande do Norte (2014).

O R$ 1,4 milhão restante refere-se a pesquisas de mercado para as diversas empresas do grupo JBS, afirma o Ibope.

Segundo o instituto, além de mentirem, os delatores da JBS “misturaram em seus depoimento­s pesquisas eleitorais realizadas para políticos com pesquisas sobre assuntos estratégic­os das empresas do grupo”.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) diz que é “mentirosa” a afirmação do ex-executivo da JBS Ricardo Saud de que a empresa repassou propina ao congressis­ta por meio de contrato simulado.

Segundo assessoria de Renan Calheiros, o Ibope chegou a ser contratado pelo PMDB de Alagoas, mas foi pago com dinheiro do partido, e tal quitação está registrada em prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral.

A Folha não conseguiu fazer contato com o ex-ministro Henrique Eduardo Alves na noite desta quinta (25).

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Mateus Bonomi/Agif/Folhapress Renan Calheiros durante sabatina de ministro do STF

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